segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

La Isla Bonita


Gente boa, depois de longo tempo me movimentando na incomunicabilidade, eis que retorno ao meu querido Balaio.

Embora com saudade, confesso que me fez bem este período em que estive desinteressada em me fazer compreensível. Estava de férias! Em um dos lugares mais paradisíacos do mundo. Uma ilha realmente muito, mas muito bonita. Depois vou colocar algumas fotos aqui para vocês verem.

Mas minhas férias não serão o tema desde post de reestréia. Eis que chegamos ao final deste 2008. Para mim, foi um ano esquisitinho à bessa. Não vai deixar saudades. Mas foi um ano de grande aprendizado. Hoje posso dizer que sou uma pessoa melhor. Mais ciente do que eu quero para mim, do que desejo para você, do que eu aceito vindo de você, e do que eu não aceito, em hipótese alguma.

Iniciei este ano em uma outra ilha, olhando para o céu e pedindo que só me acompanhasse o que realmente fosse me fazer bem. E eis que findo o ano na companhia do que tenho de melhor: o meu próprio silêncio. E agora, mais do que nunca, me (re)encontro: só. A melhor noticia é que esta sensação começa a me deixar bastante feliz.

Quero falar agora sabe de que?... Do show da Madonna, uma das coisas boas que me aconteceram este ano. Confesso que prefiro a Madonna de La Isla Bonita do que esta que aí se apresenta, super ultra mega hiper purpurinada vitaminada sarada e eletrônica. Mas... fazer o que? Vivemos hoje em um mundo de beats e aparências. O que realmente me chamou atenção no show foram as imagens do telão e todo o deslumbrante aparato tecnológico. Talvez até mais do que as músicas e coreografias. Eu preferia a Madonna daquela roupa estampada de bolinhas dançando Holiday e movimentando os bracinhos no ar. É verdade. Mas a Madonna de Sweet and Stick Tour continua tendo a sua graça.

Não apenas pela forma física e pelo fôlego impressionantes, mas por tentar dizer alguma coisa para uma massa humana que, aonde ela vai, a acompanha. A Madonna se recusa a ser fake. Os anos se passaram, se passam, e ela não se torna uma decadente e desbotada cópia de si mesma. Ao contrário de tantos cantores que ficam repetindo os mesmos sucessos a vida toda, lamentando os tempos de outrora que os anos não trazem mais, a Madonna é do tempo presente: ela é viva. Ela afeta e é afetada pelo que vivemos hoje. E se o que vivemos hoje é menos emocionante, autêntico, simples e/ou ingênuo do que o que vivemos algumas décadas atrás, a música da Madonna reflete isso.

Faster than the speeding light
She's flying
Trying to remember
Where it all began

Eu achei a platéia um pouco morna em alguns momentos, a expressão da Madonna um pouco triste em outros, mas também isso é super atual. Nada melhor do que encerrar este ano, neste mundo tomado por gente e notícias “fakes”, comentando um show desta loura morena ruiva heterohomobitranspanssexual que resiste em se enquadrar. Ela tinha tudo para ter virado uma caricatura de si mesma. Mas não virou. Foi muito bom ouvir de novo Boderline, agora em outro ritmo, e constatar que a música continua linda. Tudo à ver:

Something in the way you love me
Won't let me be
I don't want to be your prisoner so baby
Won't you set me free

Foi muito bom poder identificar, naquela Madonna de “ontem”, a atualidade que sempre esteve presente.

I want to be where the sun warms the sky
When it's time for siesta you can watch them go by
Beautiful faces no cares in this world
Where a girl loves a boy, and a boy loves a girl

Volto de férias desejando estar nesta La Isla Bonita. Mas não quero retornar aos tempos de outrora não! Fico torcendo para que, num futuro próximo, cada um redescubra dentro de si aquele pedacinho de terra where the sun warms the sky, when it’s time for siesta lalaialalaia....

domingo, 12 de outubro de 2008

Mudando de estação: a humana natureza


Entre as coisas bonitas que ouvi nos últimos tempos, destaco a observação de que cada etapa da vida poderia ser comparada a uma das estações do ano. A infância, com todas as suas cores e descobertas, seria a primavera. A juventude, com a explosão de energia e de força, seria o verão. A maturidade alcançada na vida adulta seguiria pelo outono até chegar ao inverno, tempo em que a gente precisa se abrigar no outro, em tudo o que construímos, e buscar amparo no que nos cerca para preservar o calor. A princípio, isso pode parecer comercial piegas de tevê ou mensagem dessas manjadas, que a gente recebe pela internet. Mas esta aproximação da vida com as estações me fez pensar em algumas coisas.

Um dia, todos envelhecem. E todos precisarão da mão de quem está ao lado para, talvez, atravessar uma rua, subir em um ônibus, enfim, seguir em frente. Interessante é que, quando aprendemos a andar com nossos próprios pés, encontramos nessa suposta “auto-suficiência”, a nossa força. Alguns acreditam tanto nessa “auto-suficiência”, que se tornam extremamente individualistas. Mas assim como acontece lá no começo, com os bebês, a passagem do tempo torna a nos defrontar com a necessidade da mão do outro.

Vejam: a perfeição da existência faz com que todos, um dia, tenham que se curvar aos outros, e ao tempo. E voltar a sentir na própria pele a majestade de tudo o que nos rodeia.

Mudando agora apenas um pouco “de estação”, em tempos de eleição (ainda que tão desgastada eleição) é mais do que tempo de pensar nesses nossos "outros", que andam por aí e às vezes a gente nem repara. A julgar por esta reflexão, os valores do individualismo não são compatíveis com a nossa própria humana natureza.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Intimidade Indecente


A revolução sexual deixou as mulheres, sem dúvida, em situação muito mais confortável do que nos tempos de vovó mocinha. É muito bom saber que hoje em dia estamos em pé de igualdade com os homens quando o tema é sexo. Não há mais tabus, sutiãs e calcinhas para serem queimadas em praça pública. A Rainha está nua. No entanto... acho que tem mulher aí ficando com a auto-estima no pé por não saber usufruir de toda essa "liberdade".

Podem me taxar de retrógrada, conservadora, fora de moda (mané não.. rs). Mas é a verdade. Nem toda mulher, eu diria que talvez a minoria das mulheres, está preparada para agir "igual a homem" quando busca satisfazer seu desejo sexual. Até porque, não é igual. Nesses casos, se aplica a música dos Titãs: "Desejo, necessidade, vontade... a gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor". Mesmo a mais prática, contemporânea e pós-moderna das mulheres acaba esperando algo mais do que um orgasmo quando vai para a cama com um cara. Ainda que seja uma ligação no dia seguinte dizendo o quanto ela é linda, especial, e espetacular.

E quando isso não acontece? Bem, quando não acontece, considerável fatia do público feminino fica se sentindo meio mal, com vontade de devorar dez barras de chocolate, procurando mergulhar no trabalho ou se enfurnar na academia. Tem aquelas que se convencem de que não é nem um pouco importante o cara ligar. Afinal, também nós podemos ter o gosto de dizer o quanto eles foram e são lindos, másculos e pimpões (hahaha, adoro esta palavra , tão velhinha...).

Algumas vão além. Não sabendo lidar com a ausência de carinho daqueles que não são seus maridos ou namorados (que talvez não sejam nada além de meros des-conhecidos) vão ficando neuróticas, impregnam o homem de mensagens, torpedos, sinais de fumaça. E acabam se sentindo incapazes de se relacionar. Existem ainda outras, que simplesmente “diversificam o foco”, entram em uma roda viva de transas e mais transas e, em vez de prazer, experimentam uma terrível sarjeta. Fossa total. Tem ainda muitas outras, claro. E eu me incluo nessas muitas outras. Rsrs.

Mulheres são muito misteriosas. Por isso mesmo, acho eu, temos que respeitar esse nosso mistério. Sexo é muito bom, mas antes de tudo é uma intimidade muito grande que nós, mulheres, dividimos com uma pessoa.

Intimidade, para ser boa de verdade, tem que ser conquistada.

Metáforas à La Lula-Lá sobre o arrependimento



Atualmente ando fazendo umas metáforas bem ao estilo do nosso Lula. Imagina aquela pessoa que te arranca o braço e em seguida pede a sua mão? Ou alguém que te despeja uma hostilidade do porte de um elefante e, em seguida, vem com um amendoinzinho dizendo que é o arrependimento?

Pedido de perdão não faz o tempo voltar atrás.

Para certas dores, não adiantam palavras, reconhecimentos tardios. Só mesmo o tempo. Certas feridas só cicatrizam no escuro, no silêncio, e na solidão.

Às vezes memórias ruins somem com as cinzas. Às vezes não.

Imagine o que restou da cidade após a explosão da bomba de Hiroshima... Depois da reconstrução, será que a dor se extinguiu?

Eu perdôo a humanidade, da qual faço parte.

Sei que para evoluirmos precisamos errar, sentir a dor dos outros, e sobretudo as nossas, provocadas por nossa própria limitação.

O cara que soltou a bomba no Japão, para sentir o perdão de cada uma das vítimas e de suas famílias teria que, antes, verdadeiramente, arrepender-se. E perdoar-se.

Morreu louco. Ou já era louco?

À cada um, cabe o peso sentido de seus próprios gestos.


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Pelo caminho



Talvez tão triste quanto a dor da morte seja a dor de uma idéia que decidimos deixar de lado, ou de um ideal no qual deixamos de acreditar.

Deixar para traz sonhos e planos, que por tanto tempo guiaram nossas vidas, faz a gente sentir um vazio e uma tristeza inigualáveis.

Mas às vezes é preciso.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Desculpa mas... eu te conheço?



Aconteceu comigo, deve acontecer com você: como diz a letra de um conhecido pagode, a gente "se apaixona pela pessoa errada". Será que a gente se relaciona mesmo com a pessoa real ou com a imaginada? Qual a porcentagem de realidade e de fantasia que existe nos nossos relacionamentos? E na nossa vida? Já parou para pensar nisso?

Não é novidade: a gente gosta em parte do que a pessoa é, e em parte do que ela poderia ser. Ao menos comigo é assim. Quando decidimos iniciar uma relação, vem junto um pacotinho cheio de promessas e possibilidades. Aos poucos, pode ser que parte deste "pacote" tenha seu prazo de validade "vencido"; parte se revele propaganda enganosa; e parte permaneça a cada dia mais apaixonante. Pode acontecer apenas algum(ns) desses intens. Ou todos eles juntos.

A grande questão é quando insistimos em buscar na pessoa real a pessoa imaginada. Com se fossemos um consumidor que, sentindo-se lesado diante do "produto", em vez de devolvê-lo, trocá-lo ou simplesmente aceitá-lo como ele é, ficamos tentando implementar ajustes. No caso de uma relação, que nada tem a ver com uma compra (graças a Deus!), as adaptações são necessárias. Eu diria imprescindíveis. Mas tudo tem um limite. E é preciso que cada um respeite o seu.

É preciso saber o momento certo de disparar em direção ao outro a libertadora pergunta: "Desculpa mas... eu te conheço?"

Acho que isso vale para todas as relações, inclusive, as de amizade.

O que ocorre, com alguma frequência, é que as pessoas têm dificuldade de identificar seus próprios limites. Ou acreditam que chegou ao limite muito precocemente, sem querer saber de "ajustes" ou, ao contrário, ficam obstinadas em seguir um caminho que há tempos vem se revelando cheio de furos.

Tem muita gente achando que ama quando, na verdade, está é agarrado a uma crença, construída em tempos remotos.

Sábios são aqueles casais que a gente olha e pensa "puxa, como se gostam"... Talvez apenas tenham aprendido a apreciar o movimento, a mudança, e a reverenciar a estranheza alheia.

Aceitar que algumas pessoas não são aquilo que imaginávamos e buscávamos é um grande aprendizado. Simples assim. Nem por isso elas são melhores ou piores. Imagina: se nossos próprios "eus" são tão imprevisíveis aos nossos olhos, o que dizer dos outros?

Cabe a cada um decidir até onde vale abrigar na própria vida a presença desses adoráveis estranhos.

domingo, 21 de setembro de 2008

Relações sem compromisso e a dança do quadrado




Entregar-se ao sentimento é como andar em um vendaval: a gente dá dois passos para frente, três para trás, dois para frente... mas o fato é que a gente caminha, sente o ar batendo no rosto e enchendo nossos pulmões.

Noto que hoje em dia tem muita gente iniciando relações onde já está preestabelecido que o bacana é não se entregar ao sentimento. O bacana é apenas "curtir o momento" (leia-se: sair, transar, rir, trocar algumas palavras de carinho) e se manter distante de qualquer coisa que lembre "compromisso". Não querer compromisso é um "sintoma" manifestado por muitos integrantes da minha geração, e das gerações mais novas.

É como se cada um vivesse girando em torno de si próprio (cada um no seu"quadrado", como naquele vídeo do YouTube que subitamente se parece tão metafórico).

Entregar-se ao sentimento está meio fora de moda, talvez porque modifique a gente de verdade, derrubando nossas certezas, desestabilizando nossas rotinas. Amar, então, dá o maior trabalho. Melhor evitar. Para alguns chega a ser meio aterrorizante, sempre tão misterioso. Amar exige que a gente saia um pouco do nosso universo (do nosso "quadrado"), ultrapasse nossos limites.

O que na geração hippie era chamado "amizade colorida" se degenerou no que hoje o pessoal chama de "rolo". Hoje as pessoas "ficam", "pegam" (esse verbo ilustra bem o tipo de relação em voga). Do termo cunhado para caracterizar o amor livre, parece ter ido embora a "amizade" e ficado só essa coisa meio colorida, meio desbotada, que não ata nem desata. Alegrias provisórias, satisfações instantâneas. Por vezes essas relações são o começo de um caminho. Ou uma experiência interessante. Quem sabe uma divertida forma de exercício da sexualidade. A "coisa" começa a ficar complicada quando se começa a viver mais de uma relação desse tipo ao mesmo tempo. É como querer ver dois ou três filmes de uma só vez. Confunde a cabeça e, no final, fica aquela sensação de indistinção: não se sabe se determinada cena foi de uma ou de outra história. Quem falou mesmo aquilo? O personagem "A" ou "B"? E cadê o sentido de tudo, da experiência vivida? Foi pro espaço.

Sinceramente, não gosto de nada que faça eu me sentir pela metade. Para entrar em qualquer tipo de relação que seja, gosto de me comprometer (o que para mim significa estar inteira, deixar fluir naturalmente o sentimento) e me lançar de verdade. Bom mesmo é voar sem ter o destino traçado. Não quero delimitar onde está o teto. Só assim, tudo (ou nada) pode acontecer.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O malandro e o mané


Nunca escrevi tanto sobre um tema aqui neste blog. Mas sinto que ele tem apelo junto ao enorme público. rs. Devido às inúmeras interpretações despertadas pela palavra "mané" (e os comentários do post abaixo são testemunhos disso), vou tentar delimitar ainda mais o foco para deixar bem claro a espécie à qual eu estava me referindo. Mané, sem dúvida, tem diversas variantes, e o sentido da palavra vai se desgastando com o uso. Ficou realmente banal, sinônimo de "chato", como bem observou um amigo meu.

Eu diria mais. Mané virou também sinônimo daquele ser humano meio nerd; meio prego; meio “bobo chato feio”; ou ainda, meio sem noção. Mané também é usado com sinônimo de “otário”, “fora de moda” (pois é, essa expressão já tá fora de moda...), ultrapassado. Importante ressaltar que esta última definição é disseminada, exatamente, pelos mais autênticos da espécie mané, por esses aos quais eu prestei a homenagem (e que acham que definem o que está 'na moda'). Neste caso, a definição é pura “intriga da oposição”.

Insatisfeitos com a palavra que tão bem se aplica aos seus comportamentos, esses seres decidiram lançar sobre os outros a sua maldição. Mas não cola não.

O Mané do qual eu falava, o manezão mesmo... o que ele guarda de específico em relação aos demais é o fato de não nutrir qualquer espécie de sentido de... gentileza, de consideração em relação ao próximo. O verdadeiro mané, símbolo maior de nosso século XXI, é antes de tudo um individualista.

O malandro de ontem talvez tenha se tornado o mané de hoje. Mas acontece que o malandro de ontem (que ainda existe por aí) é cheio da ginga, é aquele conquistador que não esconde o fato de ser um conquistador. É aquele cara que, dentro da sua malandragem, joga limpo. Digamos que na fila do banco ele cederia o lugar para a velhinha, (quem sabe para o velhinho), para a grávida ou para a moça.

O malandro de ontem é, antes de tudo, um amante das mulheres. Em situações de conflito, ele daria um jeito de sair ileso (mas torcendo muito para não prejudicar ninguém).

O Mané de hoje, ao contrário, é antes de tudo um amante de si mesmo. Se você for investigar a vida dele, notará que não se dá bem com o sexo feminino (a começar com a mãe, a irmã ou a avó). Podendo salvar a própria pele, ele salva. E não quer nem saber o que aconteceu com a “sociedade” à sua volta.

Acho que tá aí a diferença. Eu proponho a volta do malandro!

A volta do malandro
(Chico Buarque)


Eis o malandro na praça outra vez

Caminhando na ponta dos pés

Como quem pisa nos corações

Que rolaram nos cabarés

Entre deusas e bofetões

Entre dados e coronéis

Entre parangolés e patrões

O malandro anda assim de viés

Deixa balançar a maré

E a poeira assentar no chão

Deixa a praça virar um salão

Que o malandro é o barão da ralé

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ser ou não ser... mané



Mané. Não existe melhor palavra para definir certa espécie de gente que não hesita em ser rude e individualista quando se sente ameaçada. Ou mesmo quando não sente nada. Afinal, em geral o mané não sente muitas coisas não. A sua sensibilidade não costuma ser muito apurada...

Mas o que é ser realmente "mané"? Esse adjetivo, tão pequenininho e sonoro, cai como uma luva na caracterização desses seres que se proliferam por aí, e que por isso merecem esta justa "homenagem".

Ultimamente tenho ouvido falar muito sobre eles. Não tem sexo, idade, cor, raça ou classe social que não sofra a interferência ou não perceba a disseminação de manés em solo nacional (talvez a maior concentração esteja no Rio de Janeiro, mas isso aí já é um "chute meu", bastante questionável). Não que manés não existissem antes, nos tempos de vovó e de mamãe. A diferença é que naqueles tempos um mané costumava ter vergonha de ser mané (o que nos leva a crer que não haviam verdadeiros espécimes em cena). Mas hoje em dia algo parece estar se modificado, e acredito que eles estejam até mesmo na moda.

O mané talvez seja a grande figura do século XXI. Mané para valer é aquele que não tenta disfarçar essa condição. Pelo contrário: ele não está nem aí para disfarces. Simplesmente é e ponto.


Ser mané traz algumas vantagens: sobretudo o fato de que a vida fica muito mais simples, já que não há quase com o que se preocupar.

Mané pode ser homem ou mulher, e se manifesta com maior riqueza de sintomas em situações de conflito (como por exemplo no trânsito, na fila do banco, em momentos de cortes na empresa, ou desgaste no relacionamento). Em suma: o mané se revela de verdade em situações nas quais seu caráter é posto em questão. Mas é preciso frisar que mané que se preze não liga para esse negócio de caráter. Ele tampouco é um "mau caráter" (talvez tenha preguiça). O mané é mais ingênuo. Simplesmente vai vivendo... Não tem o propósito de prejudicar ninguém. Contanto que não o prejudiquem. E se prejudicar também... aconteceu. Fazer o que?

Se você já lembrou de alguém com esse perfil, continue comigo. Vou tentar desenvolver a minha definição do termo...

O mané acha que está "abafando", "abalando geral" justamente nos momentos em que é mais baixo e vil. O mané se orgulha de feitos dos quais deveria se envergonhar. E se envergonha de atitudes e sentimentos nobres (que porventura possa ter experimentado) os quais deveria respeitar.

Um mané nunca ama e se entrega a ninguém, porque isso seria coisa de "otário". E quando ama e não se sente retribuído "à altura", pode vir a se sentir um "idiota". E lamentar ter "amado". E o mané ama? Não. O mané calcula e cobra cada centavo de dedicação que devota a alguém, porque em geral tem baixa capacidade de doação. Não percebe que gostar vale por si mesmo, que amar aquece a alma e amplia o espírito.

O mané só entende a vida em termos de "pede e ganha". Se alguma situação ou pessoa não dá "lucro", ele simplesmente chuta tudo pelos ares e desdenha o que deixou para trás. Ele vive apenas o tempo presente na plenitude de toda manezice. Não aprofunda sentimentos de apreço, ou de gratidão. Não valoriza passado nem futuro. Vai vivendo a vida como quem vai ao shopping sem a menor intenção de comprar, como quem vai à festa sem intenção de comemorar, ou quem sai com amigos sem vontade de conversar. Simplesmente segue na sua trilha, fazendo o que lhe dá na cuca. Pensando bem... mané não costuma ter cuca (palavra tão simpática, que remete aos bichos-grilos, tão mais poéticos). Mané tem cabeça para usar boné, gel, topete, ou para decidir se avança ou recua, se omite ou compactua.

Já que tenho falado das "nights", vamos definir essa subespécie "mané noturna". Dizem por aí que ele(a) não tem pudor em ignorar torpedo, email, ligação ou sinal de fumaça. Responde quando dá na telha. Se não dá também, pra que responder? Antropólogos dizem que esse comportamento é mais comum em macho do que em fêmea. Mas não há regras (a proporção tende ao equilíbrio). Outro dado é que o mané pode passar dias, até meses, ou anos, ignorando manifestações de carinho e amizade do sexo oposto. Sua cara de pau (outra característica marcante) permite que, ainda assim, ele acione o caderninho de telefone se por acaso vir a lembrar da figura que tanta indiferença inspirou. Prepare-se: ele pode a qualquer momento te ligar. Sobretudo naqueles momentos em que você não está mais ligando a mínima. Mané ressurge.

Ao mané, não interessa muito nenhum desses assuntos sobre os quais estou escrevendo, até porque ele não se interessa muito por quase nenhum assunto. Gosta mesmo é de rir um pouco sobre quase todas as coisas. E isso basta. O mané quer o que o apraz no momento (e isso se modifica com muita facilidade e velocidade).

Uma das melhores definições para essa espécie é que ela não tem auto-crítica. Mané que é mané sofre de uma espécie de cegueira que não permite vir à tona a percepção do quanto foram (ou são) estúpidos (manés) com os outros.

Uma coisa que me parece importante lembrar é que todos nós podemos ter momentos "manés". Mas se não formos "manés" autênticos ficamos propensos a corrigir a rota, mudar o rumo e retornar à condição humana, sujeita a erros e desejosa de acertos.

Nós, os "não manés" por natureza, nos arrependemos e pedimos perdão. Olhamos nos olhos, reconhecendo eventuais "tropeços", e crescemos com a "manezice". Mas mané que se preze, não! O tempo os torna, ao contrário, a cada dia mais e mais... manés. Você já viu por aí um verdadeiro mané arrependido?

O mané é meio ressentido, desconfiado. Deve ter problemas sérios de infância. Ou simplesmente pegou gosto pela coisa, já que faz tanto sucesso e conta com boa fatia de público.

Tal como acontece na natureza, a existência da espécie "mané" parece ter sua razão de ser na cadeia reprodutiva humana. Eles parecem existir para que os demais se tornem mais sagazes e espertos. Para que os demais se enobreçam, se amem e se multipliquem ainda mais.

Com muito mais senso de urgência e felicidade.

domingo, 31 de agosto de 2008

Domingo de Chuva



Nada como um domingo de chuva para nos reencontrarmos com nós mesmos. Às vezes, ao longo do dia, a gente se perde da gente. Comigo, acontece com alguma frequência. O tempo de desencontro é que varia, de acordo com a paz interior que levo no momento.

Eu já me perdi de mim entre um telefonema e outro, um email e outro, um afazer e outro. Já me deixei em algum lugar do passado para retornar, tempos depois, e dar as mãos a mim mesma. Ao contrário, também já topei comigo em algum lugar do futuro, completamente perdida, com a sensação de ter chegado antes, quando ninguém ainda estava lá. Ou de ter chegado depois, quando todos já tinham ido embora. Nessas horas, o melhor que temos a fazer é nos encararmos de frente, como quem diz "Então você está aí? Não me faça esta cara! Volta aqui, vamos em frente! E juntas dessa vez, ok? Não descole do meu lado!".

Tem gente que passa a vida evitando encontrar-se consigo mesmo. No caso de algumas pessoas, o esporte predileto chega a ser o oposto: uma espécie de pique-esconde eterno e profissional.

Olhar para o nosso rosto, aquele mais recôndido, exige coragem. O rosto que exibimos aos outros, este, está quase sempre igual. O cabelo muda, e também o tom da pele, dependendo do clima. Mas e o outro rosto, aquele que a gente não enxerga no espelho? Esse, a gente tem que se empenhar para enxergar, acolher, aceitar. Com carinho, entrega, coragem.

Tem horas que é melhor deixar esse nosso rosto ali mesmo, escondido da gente. Mas se a demora for grande para fazer o "resgate", cuidado: o momento do reencontro pode ser fatal. Pode acontecer de você não se reconhecer mais naquele rosto esquecido. E fazer de conta que
nem é com você... As consequências disso, boas ou más, só mesmo cada um experimentando...

Às vezes a gente foge da solidão, mas o mais importante na vida é o encontro com ela, ou melhor, com a gente. A solidão é o momento desse eterno reencontro com o que somos, com o que vamos sendo, com o que seremos. Por isso, por vezes tão temida, a solidão é, na verdade, tão preciosa.

Neste domingo eu amei ficar comigo, o dia inteiro, fazendo simplesmente o que tive vontade, na hora em que tive vontade, pensando e ouvindo e lendo e escrevendo o que dava vontade.

Se a gente encara de frente a nossa própria solidão, nunca estaremos sozinhos. Pode parecer óbvio isso, mas é uma obviedade tão boa de sentir e de lembrar...

E não é que no meio desta tarde tão gostosa eu ouço, no rádio, na voz da Maria Bethânia, uma música linda, que há tempos eu não ouvia. Reproduzo aqui para vocês ...
E recomendo ouvir, na voz da Bethânia e também do Almir Sater.

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir


Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir


Todo mundo ama um dia
todo mundo chora
Um dia a gente chega, e no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz


(Tocando em Frente - Almir Sater)


Quem desejar ouvir...



quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Homenagem a Pierrot


Já que falei nele...

O Pierrot é um personagem da Commedia Dell’Arte, apaixonado pela Colombina, mas não é correspondido. Representa a idealização do amor. É um sonhador, tradicionalmente retratado com uma lágrima escorrendo pelo rosto e vestindo blusa e calças bufantes brancas.

Aproximação


"(...) a aproximação, do que quer que seja, se faz gradual e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo de que se vai aproximar"

Adoro esta frase da Clarice. Acho tão especial.

As melhores descobertas são aquelas que se fazem aos poucos. As melhores amizades, se tornam sólidas aos poucos. Os melhores amores. Os melhores dias. E a felicidade não teria a menor graça se não tivesse havido, em algum momento, a busca da felicidade. E a sensação de que também ela é tão passageira.

A gente cresce com o sofrimento. Quem fica rindo o tempo todo é palhaço de circo, e palhaço sem graça. Porque o Pierrot tem uma lágrima. E até mesmo o bom palhaço de circo tem muito de trágico. Eu sempre gostei do Pierrot. Nunca gostei de pessoas que se mostram apenas fortes. Eu gosto é de ver onde cada pessoa se esconde. Onde cada um é criança com medo do escuro. É aí que mora o mistério de cada um de nós.

A gente se apega, sobretudo os que têm a lua no signo de Touro. A gente se apega às coisas da vida. Mas é preciso se desapegar, deixar ir embora... Deixar vir, e ir, vir, e ir... Igual às ondas do mar. O que fica mesmo é o gosto de sal na boca.

A melhor parte da praia, e da vida, é o gosto do sal no corpo, e na boca.

Não estou com vontade de escrever nada que faça sentido hoje. Quero o non sense. Quero o surreal. O extraordinário. À propósito, eu fui à exposição. Eu vi a cara da barata e ela estava viva! Portanto, zIMILORDISHT para vocês.

sábado, 23 de agosto de 2008

Distraídos venceremos



Acabei de ler uma frase que achei bonita, do Paulo Leminski: “Distraídos venceremos”. Eu faço parte da legião dos distraídos. A distração, muitas vezes, acontece quando geralmente estamos prestando muita, mas muita atenção em outra coisa que não na realidade concreta. O distraído vive envolto em pensamentos, fantasias, devaneios, emoções... e, não raro, em expectativas. “Nós somos feitos da matéria dos sonhos”, diz uma outra bela frase, essa atribuída a William Shakespeare. Acho que sonhar é muito bom, realmente ajuda a "vencer" a vida. Mas o risco é que o excesso de sonho faça a gente dormir no ponto. Sem notar se estamos ou não na estação correta...

Já que expectativas são às vezes nefastas, o negócio é viver o tempo presente e confiar na eficiência do cosmos, do acaso, que vai nos proteger enquanto andarmos por aí distraídos...

Expectativas desleais

Acho que a vida traria muito menos sofrimento se não fossem as expectativas... Você fez uma entrevista de emprego. Chega em casa e já começa a se imaginar ali, com aquela gente bonita, saudável e bem paga. Feliz da vida. No entanto, a seleção foi severa e você, infelizmente, não foi escolhido. O que fazer com o sentimento que fica no peito, de fome não saciada? Com quem você pode reclamar, reivindicar seus direitos? Afinal, em casos como esse uma parte sua foi imensamente prejudicada. Aquela simples possibilidade te acenou com uma vida inteira que você queria viver, e que você estava preparado para viver! Mas subitamente o chão se abriu sob seus pés e você foi atirado no vazio.

Ou então você conhece um cara (ou uma mulher). O cara te parece atraente. O cara te parece gentil. O cara te parece inteligente. Sensível. No entanto, o cara vai e ... puft! Some. Some antes que qualquer forma de relação minimamente consistente tenha se formado. Você praticamente só sabe o nome dele. E aí, o que acontece? Você se frustra terrivelmente, pois um filme já havia se passado em sua mente, um filme lindo que... só você viu! Sumir é algo comum, principalmente neste cenário carioca. Eu sumo, tu somes, ele some. Nós sumimos, vós sumistes?, eles somem.


Essas situações acontecem comigo, com você, com todo mundo. Expectativas já impediram que relações iniciassem, já destruíram outras existentes, já causaram brigas, desilusões, guerras. Melhor mesmo seria viver sem elas. Mas dá? É difícil.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sobre grunhidos e macacos



Já que estamos falando dela, que foi consagrada como a "escritora do indizível"... decidi falar aqui da insuficiência da linguagem para dar conta da experiência humana... Noooossaaaaa! Alguns acharão isso muito "hermético", mas não é não. O pensamento aqui é até bastante rústico. Às vezes acho que quanto mais a humanidade foi se sofisticando em termos de aquisição de linguagem, mais ela ganhou em termos de mal entendido. Pense bem: no tempo do homo sapiens não existia o famoso "D.R" - Discutir a Relação. Se a macaca estava irada, ela dava uns murros no chão, batia com a "clave" na cabeça do macho, e ia dormir tranqüila. Ou vice-versa.

Quando olho para trás, percebo que a maior parte de meus desentendimentos foi em decorrência delas, as palavras. Você diz uma coisa e a pessoa entende outra. Ou a pessoa diz uma coisa que te remete a "traumas" de sua infância e você sofre em dobro (porque o sofrimento que vem da memória, das interpretações dos fatos, é de qualidade ainda mais requintada, do tipo tortura chinesa: devagar e sempre...). E quando você lembra de certas coisas ditas que não te "remeteram" a absolutamente nada, mas que te feriram como facadas no estômago? E a hora de dizer "eu te amo" para alguém? Pode parecer que não, mas tem muito casal que passa a amar depois disso, ou, ao contrário, se sente tão inferiorizado diante dessa expressão que acaba desconfiando do sentimento e encerrando a relação. Outro dia ouvi no trabalho uma frase sensacional. Um colega disse assim: "Até que a morte os separe" é um convite ao assassinato. Por que essa frase, proferida por um padre, causa em quase todo mundo uma sensação de asfixia? E porque a palavra "colega" irrita tanto?

Apesar de nós, humanos, nos acharmos "muito bons", a verdade é que ainda grunhimos como macacos. Eis toda dor e delícia de sermos o que nos tornamos, ao longo da evolução da espécie. Tenho certeza de que as palavras não correspondem às coisas. Elas criam as coisas. E destroem também. O que há de melhor nelas é o que elas não conseguem dizer. Vou me sentir muito feliz no dia em que conseguir dar menos valor às palavras e realmente ler e viver nas entrelinhas. Como fazia a Clarice.

A minha, a sua, a nossa Clarice



A exposição "A hora da estrela", que recebeu 290 mil espectadores no Museu da Língua, em São Paulo, está chegando hoje no CCBB do Rio. É isso, gente boa: minha Clarice Lispector desembarca agora por aqui, com toda sua simplicidade e profundidade. E "minha" não significa que Clarice não seja também sua, nossa. O pronome possessivo deve-se simplesmente ao fato de que ler Clarice, como bem já disse Caetano Veloso, "é como conhecer uma pessoa".


Clarice tem como marca se derramar a cada linha que escreve, deixando o leitor sempre na dúvida se personagens como Martim, GH, Joana, Virgínia, Lóri e Macabéa não são também (e sobretudo) ela própria. Lendo Clarice nos sentimos íntimos dessa mulher de olhos intensos que morou no Leme, nos EUA, na Europa, íntimos dessa ucraniana tão brasileira, que em sua escrita desenvolve o pensar e o sentir, ou melhor, o "pensar-sentir". A escritora mistura e funde, como ninguém, os "opostos". E é isso o que me encanta e intriga. Ela consegue ser complexa e tão simples, consegue nos envolver, fazer rir e chorar, com os mistérios do profundo e do trivial. Tem gente que a considera "hermética", mas eu considero Clarice muito humana.


Clarice, venha a nós, que tanto precisamos de ti, neste mundo dominado pelas palavras, pelos fluxos de comunicação instantânea, e muitas vezes vazia! Nos ensine a amar o silêncio. E aprofunde o gosto de quem já vive cercado por ele...
A quem interessar possa, recomendo uma visita à exposição.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Não sou eu quem me navega quem me navega é o mar...



Todos nós temos várias personalidades em uma só. Ultimamente tenho parado para prestar mais atenção na multiplicidade que reside em cada ser humano. Você já deve ter topado por aí com aqueles caras aparentemente super sensíveis, que escrevem poesia e amam Literatura, mas que ao primeiro sinal de estresse viram homens das cavernas, falam impropérios e ficam realmente rudes... Ou, ao contrário: aquelas pessoas aparentemente desprovidas de qualquer caldo de sensibilidade que, inesperadamente, iluminam seu dia com um gesto, uma palavra. E te dão a mão quando você menos espera... Eu mesma já devo ter surpreendido, nos meus momentos de cansaço e mau humor, quem me considera 100% Julinha tranqüila. Dependendo do momento e da forma como o estresse foi ocasionado, já me vi subindo nas tamancas e agindo como uma "Auditora" oficial da nação. Como boa virginiana, nessas horas potencializo meu lado analítico, e ataco o "oponente" com surpreendente, impiedosa (e também aparente) racionalidade... Vai dizer que você nunca se surpreendeu com as outras faces de si mesmo? O incrível é que a gente adota, ao longo da vida, apenas uma de nossas facetas como se fosse a soberana. Por hábito, preguiça, ou mesmo predileção, é comum a gente se esquecer que existem diversas outras dimensões nossas, doidinhas para aparecer. Prestes a emergir deste oceano de mistério que somos cada um de nós...


terça-feira, 5 de agosto de 2008

Uma laranjada por favor... Êta vício do bem!



Eu sou uma pessoa viciada em... amor. Adoro estar apaixonada, namorando, amando, descobrindo outras perspectivas e horizontes diferentes dos meus. Mais do que nunca, chego à serena conclusão de que existe o amor ruim e o amor bom. O amor ruim é aquele que te obriga a ser outra pessoa diferente de quem você é. É aquele amor que faz você se sentir sempre em uma esteira de academia, correndo, correndo contra o tempo, tentando agradar o ser amado, tentando ser mais (ou menos) atlética, inteligente, feminina, indepentende, sexy ou dona de casa... Enfim, é aquele amor que não faz você se sentir plenamente feliz sendo simplesmente quem você é. Este tipo de amor ruim é o que mais aparece por aí: a terra está sempre fértil para ele nascer, do oiapoque ao chuí. Já o amor bom... Quando experimentamos esse sentimento, sabemos que encontramos um companheiro(a) para o que der e vier. É aquela pessoa que te curte mesmo nos seus piores momentos. Que eventualmente até ri do seu mau humor (e quando não ri, te ajuda a perceber o quanto você é muito mais bonita(o) bem humorada(o)). Em vez de julgamentos e competição, o amor bom promove a paz e o equilíbrio. A evolução da espécie.


(...)


Eu já quis ser outra que não eu, tudo para atrair o ser almejado. Já me vi tentada a ser uma atleta descolada, uma amélia devotada... Mas tudo isso é frágil e não se sustenta. Crescemos ouvindo que amar é se sacrificar pelo outro, é ceder, é encontrar a "alma gêmea", "a outra metade da laranja"... Cada vez mais, eu desejo ser uma laranja inteira. Que o outro venha incrementar minha deliciosa laranjada, ou transformá-la numa laranja com hortelã, ou sei lá mais o que... Só não azede o meu frescor, não apimente demais a minha doçura. E papo encerrado.



Sim, existe vida inteligente nas nights do Rio de Janeiro! A vida inteligente no Rio de Janeiro emana de pessoas de carne e osso, feitas do mesmo material que eu, provavelmente, que você. Em certos lugares pelos quais eu passo, parece até que o ser humano é composto de outros elementos que não terra, ar, água... São pessoas que parecem saídas do filme "Inteligência Artificial": meio gente, meio robô. Quando a pilha acaba, ficam meio sem fala, sem ação, sem cérebro... Para este estilo de gente, o sexo é mera troca de fluidos, satisfação de necessidades físicas. São pessoas que, quando morrem, devem mesmo virar pó e nada mais além disso. Quanto às outras, bem...não sei sobre seus destinos pós-funeral... mas que elas têm alguma substância a mais, ah, isso tem! Nem que seja uma energiazinha que se espalha pelo universo e ajuda na multiplicação das flores, na proteção contra o efeito estufa, na proliferação da fé em regiões sem esperança...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Reprise dos horrores




Toda experiência traz aprendizado. No mínimo, o aprendizado de que você jamais desejará repeti-la. Da experiência que eu tive no último ano, levo, entre outras coisas, uma excelente frase: “O mundo já acabou. Agora é só a reprise dos piores momentos”.

Como saber se o mundo já acabou e agora é só a reprise dos horrores? (atenção: os fatos aqui narrados misturam ficção e realidade, afinal, o “real” já acabou):

- Quando você se acostuma com o fato de que o tráfico e as milicias mandam na favela e no asfalto, influenciam eleições, torturam jornalistas, moradores, e quem mais puder atravessar o seu caminho
- Quando a barriga protuberante e a opção sexual de um jogador de futebol causam mais comoção do que os fatos relatados acima
- Quando não se acredita mais em partido e se carrega apenas um coração partido
- 1) Quando o cara com quem você procurava apartamento termina o namoro alegando que não ganhou presente de aniversário 2) O cara entra no Orkut 3) O cara convida, pelo orkut, uma mulher para ir ao funk e começa a se expressar como funkeiro 4) Você descobre que ela integra a comunidade “Meu sonho é cantar no Raul Gil”.
- Quando mesmo depois disso tudo você olha em volta e continua querendo acreditar que foi apenas um deslize, que ele vai voltar e perceber o quanto estava equivocado

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre super-heróis: Salve Verissimo e o Batman!


Andei falando dos Super-Homens da night mas quem anda em evidência, ao menos nas telas do cinema, é o Batman. Minha amiga Ana Maria me convidou para ver o filme, e eu confesso que me interessa muito mais o homem-morcego do que o homem-pássaro. Como a lei da atração bem nos diz, quando uma porta se abre para um assunto, uma energia ou um pensamento, outras janelinhas e portas vão se abrindo na mesma direção. Dizem, este é “o segredo”. Pois li hoje uma crônica do nosso “super” Verissimo que vai ao encontro dessas idéias, justamente valorizando as qualidades do Batman. Diz assim: "Sua obsessão pelo Bem é uma escolha moral, desassociada de qualquer imperativo externo. Ele não é um herói para melhorar a reputação dos morcegos nem porque veio de outro planeta predestinado a ser bom (...) O que a sua legenda nos diz , e talvez por isso dure tanto, é que o ser humano é cheio de imperfeições e maus impulsos, limitado pela biologia e condicionado por mitos e tradições, mas é livre para escolher o que quer ser (...)". Salve Veríssimo! Com poucas palavras, consegue dizer o que importa, e deseja longa vida ao Batman, "um super-herói do iluminismo", que "decide ser justo". Pois eu desejo ser a mulher-morcego. Quero um homem que decida ser bom, decida ser justo, decida ser belo... Chega de super-homens-príncipes que decidem ser sapos, grosseiros, egoístas, mal educados... Eu quero um homem-morcego que decida ser pássaro! Eu decido ser feliz. E vida longa ao amor, já que hoje (me disseram) é o Dia Mundial do Orgasmo!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Pedalando sem sair do lugar?


Na falta de fé, esperança, solidariedade, sensibilidade, bondade... a idéia que mais parece em voga hoje em dia é: tenha um corpo sarado. A cada esquina do Rio de Janeiro encontramos um Mc Donald’s e uma academia. Em vez de "caras pintadas" em protesto, proliferam-se os rostos plastificados e "botoxizados". Uma legião cada vez maior de pessoas cultiva o hábito de malhar. Malhar não mais os políticos corruptos (duas palavras que se tornaram redundantes); ou o estilo de vida cada vez mais selvagem dos cariocas. Em vez disso, malhamos nossos corpos, nossos glúteos e abdomens. A redução da massa cinzenta parece ter como conseqüência direta a elevação da massa muscular. Talvez o exercício que melhor simbolize essa “sanha” de achar que estamos indo a algum lugar (quando na verdade estamos praticamente estagnados) são as aulas de spinning! Suar, pedalar, suar, pedalar, sentir o coração quase voando pela boca ... Suar, pedalar, e beber um pouquinho de água. Olhar em volta e ver que todos sofrem coletivamente. E que a paisagem é artificial, pouco iluminada. Isso é uma aula de spinning. Durante a aula, penso diversas vezes “estou quase morrendo”... Chego em casa moída, no limite do desmaio, morta de fome. Será que faz bem? No dia seguinte, acordo com meu corpo parecendo que foi atravessado por um trator. O que eu vejo de positivo nesta aula é que ela me impede de manter qualquer pensamento por mais de três segundos. E as músicas, se o professor estiver inspirado, podem ser bastante estimulantes. Outro dia ouvi uma do Michael Jackson que não curtia a tempos: (Annie are you ok?)/ (Will you tell us that you're ok?)/ (There's a sign in the window) / (That he struck you - a crescendo Annie!). Esses sussurros para Annie, perguntando se ela “estava ok”, esse “crescendo”... isso tudo me intrigava um bocado durante a adolescência. Quase tanto quanto o trecho “A mulatto... A mosquito...” de “Smells Like Teen Spirit”... Essas palavras em inglês me pareciam um pouco deslocadas do restante da música... sei lá.... Bom... Este é o tipo de pensamento favorecido pelas aulas de spinning...


O Show da Vida




Na maioria dos casos, acredito que os términos (de namoro, "rolo", casamento...) sempre deixam ao menos uma das partes envolvidas com a sensação de estar protagonizando um filme surrealista. É como se, de repente, o diretor do "filme" (que vinha sendo rodado há algum tempo, com as falas, os personagens e a história já mais ou menos delineada) decidisse, por conta própria, modificar o roteiro. E, em vez de promover o desenlace do conflito, rumo ao "final feliz", optasse por modificar abruptamente o estilo da história narrada. A partir de então, uma das partes sai de cena. A outra permanece vivendo dentro do filme, como um protagonista desorientado. Para aquele que fica na história, a sensação é de grande estranhamento. Não sabe para onde ir, o que fazer, qual fala proferir... Fica olhando para o alto, na direção do céu (à exemplo do que acontece em "O Show de Truman") aguardando as novas diretrizes do "diretor(a)". Como se indagasse: "Então é isso mesmo?". "E agora, José?". Silêncio. Ninguém responde. A sensação é a mesma experimentada quando se vê um quadro de Salvador Dali. Relógios derretendo, pessoas de ponta cabeça. Você chega a desconfiar, olhando para o alto, que o lugar do "diretor" foi ocupado por aquele(a) antigo(a) camarada com quem você dividia as melhores encenações... Esse processo pode demorar mais ou menos tempo, dependendo da disponibilidade interna para o sofrimento da atriz/ator em questão, da sensibilidade de cada um, do temperamento, das conjunções sociais e astrais, entre tantos outros fatores (inclusive, demográficos). O processo dura até que se decida fazer como o personagem Truman, saindo furiosamente deste cenário no qual os papéis foram mudados, as pessoas, objetos e lugares embaralhados. Passada a tempestade, eu estou rasgando completamente o cenário que, por tempos, inventei para mim. E não é que a luz do sol parece agradável?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Super-homens da Night Zona Sul II: o desafio


Se você é insistente, e não tem nada melhor para fazer naquele momento, você pode se lançar no desafio de encarar um desses personagens típicos da night. É divertido. Você olha, repara que ele está notando. Olha mais um pouquinho, mexe no cabelo, olha para baixo, dança com aquela vontade. E vê o ego dele se insuflando. Você continua por mais um tempo. Ele decide caminhar. Passa perto de você. Passa longe de você. Pára. Dança alguns segundos. Olha para o planeta de origem, sempre além, lá no infinito. Você olha mais um pouquinho e faz um ar blasé (pensando no quanto seria muito mais interessante um carinha sensível, inteligente, bom de papo...). Até que ele te dá uma olhadinha e um sorrisinho. E continua a andar até sumir na multidão. Não precisa nem dizer que a preferência sexual deles não é homem, nem mulher, nem travesti, emo, ou o que seja... é mesmo um excelente espelho de academia.


Super-homens da Night Zona Sul


Existem uns seres de outro planeta, uns caras muito, mas muito gatos, que passeiam nas nights olhando para uma linha do horizonte imaginária, sempre um pouco mais além de onde estão os mortais. Eles traçam essa linha com aquele olhar de raio x de Super-Homem e vão andando, andando no meio da gente, seguindo a tal da linha. Caminham lentamente. Com passos de felino. De repente, eles param. Param tudo. E ficam parados, no meio da muvuca. Olhando para outro ponto. É interessante acompanhar o olhar desses homens. Se você tem alguma esperança que ele pouse sobre você, esqueça. Em 95% dos casos eles olham, no máximo, para o teto. Quando baixam os olhos, é para ver se o sapato foi maculado pela pisada de alguém. O olhar de raio x ultrapassa as pessoas: homens e mulheres. O raio é indiferente à sexualidade de quem encontra pela frente. Quando você imagina que já sabe tudo sobre esses homens... Eles dançam! Na verdade, balançam o corpo por não mais que alguns segundos. E reiniciam o processo: andam, andam com uma calma absurda para quem se acotovela no meio de dezenas de pessoas, copos, cigarros, olhares. Param. Olham para o teto. Olham na linha do horizonte. Olham para o tênis. Fazem cara de que estão refletindo. Permanecem parados. Traçam de novo o raio e somem na multidão...


Back to the Night na Zona Sul


Viver a night não é simplesmente sair para dançar de noite. É compartilhar minimamente todo um espírito de equipe (se é que se pode dizer assim...), é identificar um certo clima libertino no ar... É dizer: muito prazer, night! Eu te respeito, eu te admito. Venha a mim...

Nunca fui chegada a uma night. Minhas irmãs freqüentaram bastante, mas até pouco tempo atrás eu não tinha o mínimo interesse por elas (as nights, claro). Passei boa parte da minha adolescência dedicada aos longos namoros que tive, aos longos pensamentos que tenho, às idéias, aos amigos, à praia... ah...muita coisa... Mas night não fazia parte de meu repertório. Sempre adorei dançar. Adoro. Saía não com o intuito de “pegar” ninguém, mas simplesmente (como uma amiga diz) para “evoluir na pista de dança”. Meu caso com a night surgiu quando decidi ficar solteira. Foi uma decisão mesmo. Adotada, na época, com certa intuição a respeito dos riscos.


Sobre o fim e este começo


Amanheci feliz. Sinto que o pior está ficando para trás. Eu sou muito pelas pessoas que gosto. Me dôo demais. Mas chega uma hora em que a gente tem que desistir. Não vou fazer mistério: uma das coisas que podem levar o ser humano a criar um blog, além do óbvio amor por escrever, é terminar um namoro. O meu se acabou. Mas tenho vivido coisas bastante interessantes. Por exemplo: Uma divertida e antropológica incursão pelas boates da zona sul do Rio. Vou criar um post só para falar delas...

Sexta-feira


Hoje é sexta-feira. A gripe se aproxima em um momento que devo lutar loucamente contra ela... Tenho me interessado por homens que, guardadas as diferenças, têm um traço em comum. Atitudes inusitadas, comportamento idem... Não vou entrar em detalhes, mais vale a imaginação. Claro, eu também vivo um pouco disso tudo... Claro. Mas, sinceramente, acho que já basta. Caio nessas histórias. Mas agora me levanto.

O primeiro post a gente nunca esquece


Pra que criar um blog? Para mostrar nossas vidas, exibi-las como paisagens convidativas, repugnantes, divertidas, tediosas, originais, nem tanto? Pra que criar um blog? Para dar a “cara a tapa”? Para conversar com nossos outros “eus”, aqueles que nos lêem, do alto da madrugada, ou no meio de uma tarde sonolenta?



Bom... Não sei por que, pra que, só sei que criei um! Muito prazer, meu nome é Julia, tenho 30 anos...



Para começar, aviso que estou dispensando boa parte da minha auto-crítica, presença indesejada aqui nesse espaço. Se eu convidá-la para sentar à mesa, não sairia nem uma linha.



Vou dispensá-la em parte, mas tentarei não cair no óbvio... O mundo está cada vez mais cheio de banalidades, repetições, lugares-comuns.... Ah... que preguiça!



Convido você a dividir comigo os meus pensamentos. Pode discordar deles, falar mal, falar bem... Pode ser que eu mesma, renovada pelo tempo, passe a achá-los muito chatos, sem sentido, nada a ver... Mas e daí? O importante nessa vida é a gente se expressar.



Tem muita gente adoecendo pela falta daquela livre e sadia dose de expressão. Apenas isso já renderia um post... Então, vou ficando por aqui na apresentação...



Fique à vontade!