sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Caiu na rede? Cuidado, peixe!


É possível fazer uma ideia do tamanho do ego de algumas pessoas somente avaliando o número de postagens (comentários, fotos) que inserem diariamente em redes sociais. Se a pessoa não faz parte de nenhuma rede social: parabéns! Que tal, antes de pensarmos neste ser humano como um deslocado sem assunto, imaginarmos que pode se tratar de um homem ou mulher bem resolvido(a), que não precisa alimentar seu ego divulgando aos quatro cantos o que ele ou ela anda pensando, ouvindo, assistindo... fazendo?

Se a pessoa é dessas que insere um número de comentários, links, ou fotos razoável... talvez seu ego seja de um tamanho normal, razoável. Mas... e quando passa de um certo limite..? Pode ser um caso de carência crônica, de ego inflado ou falta mesmo de uma subjetividade mais criativa.

A verdade é que, tenho pensado, a vida real é tão mais bela, intensa e verdadeira do que algumas horas de interação por essas redes sociais... tão mais! A questão é que, agora, aqueles minutos de fama citados por Andy Warhol estão realmente acessíveis para qualquer um. Basta inserir a própria foto em uma página eletrônica, colecionar alguns “amigos”, fazer comentários mais ou menos constantes e tentar tornar a sua vida suficientemente atraente para despertar a atenção alheia.

Mesmo as pessoas que não têm absolutamente nada a dizer sentem-se satisfeitas por serem vistas, “cutucadas”, “curtidas”, enfim, notadas. É uma celebração coletiva da carência – a nossa e a alheia. Tem gente que só falta anunciar o momento de ir ao banheiro.

O comportamento humano também tem me surpreendido nos mais variados ambientes. Já notou no trabalho, como as pessoas agem? Existem aquelas que trabalham, aquelas que trabalham pouco e aquelas que simplesmente não trabalham. O que une todos esses grupos é a vontade cada vez mais constante de mostrar que se está trabalhando. Quanto mais alto as pessoas falam, produzem a sensação de que mais coisas estão fazendo. “Alô? Oi! A planilha eu te enviei. Mas não recebi ainda.. O que? Ah, semana que veeeem? Obrigadaaaa”. Os outros são sempre os incompetentes. As pessoas que falam alto, em geral, trabalham bastante.

Também no trabalho, nota-se a vontade de aparecer, de parecer. Não basta produzir, é preciso ficar bem na foto. Neste ímpeto de ficar bem na foto, muitos se lançam nas chamadas “panelinhas”, movidas por um impulso semelhante ao dos participantes de reality show – não sentir o peso da exclusão. A velha história de entrar no jogo da maioria. Nestes ambientes, florescem as fofocas, os comentários sobre a vida ou o desempenho alheio... Ou seja, a atmosfera de bisbilhotice que originou as redes sociais.

Não precisa ser assim, claro que não. Mas sou contra a proliferação da mediocridade humana, seja em qual ambiente for. Se você caiu na rede, pode ser uma grande alegria. Quem sabe a celebração de um novo espaço coletivo, de um estranho novo comunismo onde todos são quase iguais no que diz respeito ao consumo de fatos e ideias. Mas... cuidado para não virar apenas mais um peixinho morto nesta maré de grandes "novidades".