domingo, 23 de janeiro de 2011

A doçura de Chaplin, Amy e a agenda




Soube que o pai da Amy aparece em um documentário filmando a própria filha. Ela é pega de surpresa e fica incomodada por estar sendo flagrada, sem permissão, pelo seu progenitor. Pensei então que “ninguém merece” um pai desses. Putz. Igual ao pai de Michael Jackson. Cara de pau ficar dando entrevistas como se fosse o melhor amigo do filho, tirando casquinha da estrela pop.

Não conheço quase nada sobre o pai da inglesinha . Mas ele aparece na letra de Rehab “And if my daddy thinks I'm fine / He's tried to make me go to rehab / But I won't go-go-go”.

Será um caso de birra infantil a moça não querer se tratar? Estou brincando, claro... Mas vejam na foto como Amy, se deixasse de ser birrenta, poderia ser tão bela mulher. E quando digo que ela deveria dizer “sim”, eu me refiro ao retumbante “sim” que devemos diariamente dizer à doçura de nós mesmos. A reabilitação seria apenas uma conseqüência.

Seguindo uma linha de "análise" mais pragmática, talvez a reabilitação de Amy como artista dependesse também de posturas mais agressivas da platéia. Em vez de risos e aplausos, oferecer limites à moça. Quem sabe uma poderosa vaia? Para o amadurecimento artístico, talvez fosse um caminho. Um público mais rebelde para que a menina fique menos, digamos, "mimada".

Por falar em mimo e doçura, faço agora uma singela homenagem a Chaplin (os passinhos da cantora me fizeram também lembrar dele). Em certas situações, o silêncio vale mais que mil palavras.

Por exemplo, eu estava doida por uma agendinha, dessas que tem frases e poesias espalhadas pelas páginas, mas não encontrava em lugar algum. Minha irmã, militante de esquerda, vende dessas agendas, para arrecadar fundos para o partido. Mas eu queria uma com a capa do Chaplin, e não tinha mais. Tristeza... Estava com uma estranha sensação de que meu ano ainda não havia começado, sem aquela agenda.

Eis que de repente, não mais que de repente, ganho de presente a tal da agenda, justamente com Chaplin na capa... A pessoa que docemente me presenteou não tinha como adivinhar este meu tão secreto anseio. Mistérios da vida. Fiquei sem palavras...

Deixa a menina crescer!


Fui ao show da Amy Winehouse. Gosto da moça porque ela manda às favas as boas maneiras, não quer ser exemplo de nada, tem algo de autêntico e indomado. Tudo isso sem contar, é claro, com o vigor da sua voz. Mas é Amy quem leva o show ou o show que leva ela? Marco a segunda opção. Triste ver uma cantora tão refém da própria imagem. Claro que é ela a maior responsável pelo seu estágio de alcoolismo e entorpecimento. Mas fica a sensação de que a platéia e o show business aplaudem e jogam amendoim justamente para a moçoila largadona, ferradona, como se toda aquela bagaceira fizesse parte do show.

"O que será que ela vai aprontar agora?", concentrava-se, apreensiva, a platéia. Alguns achavam muita graça, vibravam até. Então Amy retorna de sua jornada rumo aos subterrâneos do palco com uma garrafa na mão, e um caminhar à la Charles Chaplin embriagado. Dando pulinhos como uma criança serelepe, meio perdida no meio daquela cena, a inglesa agarrava os amigos da banda pelo pescoço, visivelmente fora de si.

Amy delegou aos amigos um pedaço do show, esqueceu trechos das letras, se distraiu com as luzes do palco e, mesmo assim, o público de modo geral parece se sentir recompensado. "Ufa! Ela não abandonou o palco antes da hora!!". "Qualquer quinze minutos de Amy já vale à pena", eu li num jornal. Triste o povo que precisa de shows como este.

Eu fui, me diverti, mas não posso dizer que Amy mandou bem. Ela poderia ser tão mais... Amy. Pena que não ajudem a menina a crescer. Pena que Amy ainda não tenha se apoderado de si e da pujança da própria voz. Numa espécie de irreverência às avessas, encorajada talvez pela legião que a acompanha, ela segue bradando no and no and no.