terça-feira, 10 de agosto de 2010

Você quer se casar?




Final de semana passado fui a uma festa de casamento - daquelas tradicionais. Acordei no dia seguinte com a sensação de ter ido a várias festas e, ao mesmo tempo, não ter ido a nenhuma. O motivo? São todas muitíssimo parecidas. Claro, as pessoas que se casam são diferentes, existem os laços afetivos, etc e tal. Mas o casamento, em si, é de fato um ritual, repetitivo, que vai se estendendo pela festa. O ritual começa, para as mulheres, principalmente, horas antes da cerimônia. Uma maratona que se inicia no cabelereiro: hidratação, corte, escova, mão e pé, depilação. Antes ainda, você se preocupa com a "questão" do vestido. Vai usar aquele mesmo centenário, que já foi ao aniversário de oitenta anos da sua avó, e ao casamento das suas três melhores amigas? Ou vai dar uma variada e pegar emprestado o da sua prima?

Bom, o sapato você pode usar aquele meio surradinho porque ninguém vai perceber. De todo modo, você faz a unha, para não pegar mal caso alguém repare. Depois de perder horas do seu dia nos preparativos para o casamento, e separar aquela bolsa guardada faz uns quinze anos para ocasiões especiais, você percebe (eu sempre percebo) que aquele par de brincos e cordão não estão mais guardados no mesmo local. Simplesmente sumiram. E o perfume? É comum só lembrar dele quando já fincamos os saltos na rua. Mas... tudo bem. Você dá o seu jeito, afinal, não é nenhuma patricinha de Beverly Hills. É uma mulher descolada do século XXI que não precisa seguir essas regrinhas todas da etiqueta social.

A outra parte do ritual se inicia quando chegamos no templo do casório. Os "anjinhos do mal" entram em ação na sua mente, sussurando uma série de pensamentos irrelevantes. As mulheres se olham, examinam detalhadamente os vestidos umas das outras. Comprou onde? Que lindo! Perguntamos qual foi a loja e, por segundos, chegamos mesmo a acreditar que no dia seguinte, cedo, passaremos lá para comprar um igual, se estiver em liquidação. Os homens que não costumam usar gravatas são também alvo de comentários. Hum... gostei de ver heim! Embebidas em pensamentos deste estilo, sentamos nos bancos da Igreja. Olhamos a imagem de Cristo. Reparamos na maquiagem das mulheres, das mais jovens às mais velhas. A pintura vai ficando carregada e os vestidos, mais largos. Até que viram um amontoado de panos e tiras, que deixam as formas bem escondidas, nas velhinhas de noventa, cem anos. Têm aquelas sem noção, sempre têm.

A missa começa, você torce para o padre ser breve, os olhos das almas emotivas quase se enchem de lágrimas, e embora você considere aquilo tudo um pouco cafona, uma partezinha sua, perdida nos confins do inconsciente, lembra dos finais felizes das novelas de sua infância, e - pasmem - quase pede a Deus para se casar de uma forma parecida. As músicas, as crianças correndo com alianças, quanto mais pequeninhas e fofas, mais angelicais, melhor. Em geral os pequeninos com alianças não seguem o caminho até o altar, empacam no meio do percurso, gerando certa tensão - logo dissipada pelas mãos de um adulto, que vai puxando os bracinhos do(a) fofinho(a) em direção ao casal.

Se rola empatia entre o casal, você torce para que tudo siga bem na vida dos dois. Em geral, faz parte da cerimônia os noivos sorrirem um para o outro. Se olharem nos olhos e se beijarem. Na festa, o noivo é levantado pelos amigos, sofrendo uma espécie de influência das cerimônias judaicas (essas, sim, bastante divertidas). A trilha sonora começa com músicas ao estilo New York, New York, embalos de sábado a noite, coisas dos tempos da brilhantina. Dos anos 70, o tempo corre para os anos 2010, e o pessoal de meia idade começa a dar o fora da pista. Então começam as músicas de boate tipo Nuth, Hip Hop, Funk, e depois algumas dos anos 80, bandas nacionais. Os caras te olham com olhar interessado e meio cerimonioso. Você emite o seu "u-hú" bastante adequado ao ambiente e levanta os braços em direção aos céus. Festa de casamento é o maior zero a zero. Afinal, você não deseja ficar se atracando com ninguém na frente da sua tia avó. Nem macular o clima de pureza angelical à lá vestido da noiva. A noite é toda dela. Ou melhor, deles.

Lá pelas tantas, após ter ingerido algumas caipifrutas, pensado na beleza do matrimônio e acenado freneticamente para os seus familiares te acompanharem com Claudinho e Bochecha na pista... você começa a sentir sono. A decoração, os vestidos, os sorrisos, a música, o local, por mais lindos que sejam... Todos tão parecidos. Tudo se passando como uma grande reprise de "sessão da tarde". Às vezes surgem aquelas fotos dos noivos em um telão, tem as sandálias havaianas, em geral de número bem maiores ou menores que os seus pés. Tem também as anteninhas coloridas para botar na cabeça e bancar o maluco beleza. Mas de maluco beleza, festa de casamento não tem definitivamente nada. Muito pasteurizadas e caretas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A pequena grande força do acaso



Uma das melhores descobertas dos últimos dias foi o filme O Pequeno Nicolau, baseado na história do ícone francês que tem carisma equivalente ao do personagem "Menino Maluquinho" brasileiro. À princípio, achei a história leve, divertida e sensível. Mas conforme o tempo foi passando, passei a gostar ainda mais deste filme despretensioso, e que por isso mesmo é de uma simplicidade especial.

O filme é interessante por conseguir transportar o expectador para a perspectiva infantil. É como se por duas horas passassemos a ver o mundo pelos olhos do menino, e de forma bastante próxima daquele olhar da nossa própria infância. Nicolau é uma criança bastante sonhadora, imaginativa, que tem alguns amigos com personalidades igualmente marcantes. Algumas passagens do filme são tão bonitas justamente porque bastante singelas. A narrativa é marcada por uma naturalidade que nos faz rir com os personagens.

O imponderável me pareceu o aspecto mais interessante do roteiro do filme. Toda a história é apoiada na imaginação do garoto, que fantasia a chegada de um irmãozinho e acaba se envolvendo nas maiores confusões, por acreditar que será abandonado pelos pais e trocado pelo irmão. Enquanto isso, o pai da criança procura de toda forma ser promovido no trabalho, tentando oferecer ao chefe um jantar, impressioná-lo de alguma maneira, o que se mostra estéril.

O casal não anda bem, briga por qualquer besteira, e a atmosfera da casa é tensa. Mas, de repente, quando menos se espera, o pai de Nicolau evita que o chefe seja atropelado, de forma bastante banal e espontânea, sem qualquer intenção de "impressionar". Um gesto aparentemente bobo acaba fazendo com que ele obtenha a confiança do patrão, e tudo ao redor de Nicolau começa, como que magicamente, a melhorar. O que ficou para mim, do filme, é a idéia de que todos querem controlar seus destinos, mas alguma coisa que escapa, essa força do imponderável, é o que acaba construindo a história real do pequeno Nicolau.

Bacana pensar, já muito distante do cinema, como a gente às vezes se empenha tanto para alcançar, ou evitar, alguma coisa, e de repente, "magicamente", a vida dá um jeito de resolver o que parecia nebuloso. Mesmo as frustrações, que no mundo infantil são ainda mais intensas, têm o seu lugar. Quem não viu, veja.

Como os nossos pais



Ouviu um carinha com quem se relaciona dizendo: "serei sempre assim, é de família, meu avô também era assim"? Então saia correndo. Pessoas que se negam a evoluir espiritualmente merecem "apodrecer no mármore do inferno".

Não me acho perfeita, mas minhas imprefeições não se devem à recusa em tentar modificá-las. Ouço as críticas, quando elas são construtivas, e acho que já mudei muito ao longo da vida graças às críticas construtivas.

Já ouvi essa frase por duas vezes ao longo da vida. Em geral, vem de pessoas que preferem não enxergar as próprias mazelas à fundo, e que de certa forma (pasmem) orgulham-se delas. Certa arrogância pode vir travestida de (pretensa) sagacidade. Ou um bloqueio (sério) afetivo de independência emocional.

A melhor definição desses tipos que desfilam por aí se gabando de suas imperfeições partiu há alguns anos de um astrólogo: "manequim de velório". Imagem triste, não? Contraditória. Ninguém imagina um manequim em um velório. Mas é que a beleza desses seres quase imutáveis esconde uma certa tristeza, petrificada na ausente possibilidade de mudança.

Eu já me afoguei diversas vezes pedindo a mão de quem não deseja mergulhar. Há quem prefira viver na superfície. Direito de cada um. Mas cansei também de um certo papel messiânico de desejar levar luz às trevas. Quero levar luz a quem me iluminar, claro. Pessoas que se acham muito sagazes, críticas, ou acima da maioria dos mortais não merecem mais minha energia, empenho e dedicação. Inteligência sem sensibilidade não leva a lugar algum. Nada de manequins de velório!