sábado, 12 de dezembro de 2009

Back to the night - tendências no cancioneiro carioca


Dançando forró no Democráticos constato que as cantadas agora também se aprimoram na tendência da especialização e da segmentação de mercado:. "Jornalista? Hum... você poderá então fazer um furo de reportagem com uma notícia que eu te darei como biólogo: a descoberta de uma nova jazida de..". Tentou a especialização pela via profissional, não foi feliz. Em seguida, explicando o passo de dança: "Esse passo chama-se volta ao mundo, cole sua testa na minha, agora a bochecha, agora o queixo" (o pior é que cheguei a acreditar que se tratava de um dos três novos passos que acabava de aprender) até que ... "agora gire a cabeça 360 graus" .. "Ops! Não conheço esse passo não!". Gente boa, as cantadas mais generalistas nesses casos ainda são melhores.. E independente desses rompantes de "criatividade" o Demo às quartas é bacaninha mesmo. Outra modalidade que parece estar em voga no quesito cantadas é ligar para a casa da pessoa em horários improváveis como 22h da noite ou às 6h da matina. Comigo ocorreu o primeiro caso, com uma amiga, o segundo. Será que esse povo não dorme? ...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Tá na moda ser bobo




Depois de dedicar um post exclusivamente ao mané, escrevo este em homenagem ao... bobo. Se há tempos o bacana era ser sério, hoje em dia está na moda ser bobo. A palavrinha já é por si interessante. Duas letrinhas iguais duplicadas. Bêó-bêó. O bobo, dependendo da capa de “genialidade” que vista nas suas baboseiras, pode se tornar alguém interessante. Em geral, são caras meio desajeitados, sem aquela gentileza dos malandros autênticos, desprovidos da sensibilidade dos românticos ou da capacidade argumentativa dos inteligentes. Claro que não existem rótulos rígios para nenhum desses tipos. Aliás, sou contra os tipos. Mas bobo que se preze não é passível de relativização. Na época da adolescência, fazem a alegria dos amigos. E seguem proporcionando aos amigos o mesmo tipo de alegria juvenil, por toda a vida. Junto à mulherada, o bobo tem essa vantagem do frescor juvenil. Ele te faz rir de um palito, de uma caixa de sapatos, de coisas aparente banais. As piadas do bobo em geral são banais. Mas de tão banais, ficam divertidas. Existe por aí todo tipo de bobo: o bobo playboy, o bobo pseudo-intelectual, o bobo alternativo e descolado, entre outros. Hoje em dia um tipo muito específico de bobo – a ser pormenorizado neste post - está na moda, e por estar “in”, tende a provocar confusão na capacidade de discernimento humana. Esses bobos querem passar por “autênticos”, o que de fato, não o são.

Vejamos como identificar um bobo. Aquele cara que não tem limite, que faz graça de tudo, recorrendo ao humor negro, humor arco-íris, e todos os tipos (em geral manjados) de humor. É fácil imaginar a piada que vem de um bobo. É aquela que ninguém tem coragem de fazer, e o bobo vai lá e.. faz! Acho muito saudável a existência de bobos na Terra, e reconheço algum charme em meio à banalidade nesses seres tão... serelepes. Mas creio que o tema mereça análise mais cuidadosa, em nome de certa tendência que aponta certo tipo de bobo se legitimando na sociedade como verdadeiro mané. Vejamos o "bobo descolado", que é o que está na moda. Muito legal eles sacanearem, por exemplo, os políticos, como fazem os bobos do CQC. Mas a questão é que ficou tão fácil ser bobo (vide a proliferação de grupos de comédia em pé – alguns deles realmente bons - e de programas de TV como Pânico e Cia) que a qualidade da bobeira tende a se degradar mais e mais, tornando-se, sim, nociva à sensibilidade humana.

Quando dizem que o Pânico está tomando a audiência do Fantástico, não estranho. Trata-se daquele fenômeno já anunciado por gente boa (e não boba) de plantão, que alerta há tempos quanto à tendência (perversa) da informação virar entretenimento, perdendo seu verdadeiro foco e sentido. Isso somado ao fato de o Fantástico ser um programa em geral chato, deixando-o em desvantagem em relação à bobeira fácil do Pânico. Mas quando jornalistas se dedicam com afinco a debater histórias como por exemplo aquela da aluna da Uniban, como se fosse uma Leila Diniz contemporânea ... fico à beira da depressão. Brincar, por exemplo, com o suicídio dessa moça, a atriz que fez a professorinha na tevê, é de um tremendo mau gosto. O suicídio cometido por ela não merece ser alvo de piadas grosseiras, como a do pessoal do CQC, que disse que ela se matou “porque teria que contracenar com Alexandre Frota”, ou porque “quem não se mataria, no lugar dela?”. Agora eu pergunto: bobeira ou babaquice? A questão é que esses caras, como são bobos, estão na moda e tem fama, se acham no direito e no dever de fazer uma graça muitas vezes baixa, apelativa e desrespeitosa.

Desconfio que certo tipo de bobo em voga atualmente esteja muito próximo do cínico. Não apresenta compromisso com nada, em nada acredita, a não ser na própria ... fama. O bobo não acredita nem na (pretensa) graça da própria bobeira. Quando legitimado, seja por um pequeno grupo de amigos ou pelo público da tevê, acha que paira alguns níveis acima dos outros mortais.

Defendo a ética e o mínimo de bom gosto na bobeira. Aprecio os bobos inteligentes e talentosos, como o pessoal da finada TV Pirata, como o ótimo Marcelo Adnet, o Arthur Xexéo, entre outros diversos que se dedicam à bobeira com classe e conteúdo. Nesta era do Twitter, ficou fácil ser bobo. O pessoal usa da ferramenta até para anunciar que fez cocô, achando que pode ficar engraçado. A bobeira fácil despreza a informação, a cultura, o conhecimento. Ela é oportunista, vai em cima do que é obvio, reforça os preconceitos, privilegia o mau gosto.

A bobeira fácil é afeita à fofoca, apequena as pessoas e a vida. Eu particularmente desprezo este tipo de (mau) humor. Acredito no poder da inteligência, da bobeira criativa e transformadora. Que sobrevivam os bons bobos. E ponto final aqui nesta baboseira!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Viver sem tempos mortos


A opção de assistir ao especial sobre Claudinho e Bochecha na televisão, confesso, quase me arrebatou, pelo que há de inocência e até pureza nas baladinhas só love só love dos rapazes. Mas pela graça do destino (e do ingresso ponto com) acabei indo ver a peça Viver sem tempos mortos, com a belíssima (no melhor amplo sentido da palavra) Fernanda Montenegro. Que mulher linda. Que sensibilidade e emoção ela passa para platéia a cada palavra dita. E que vida cheia de ideais, de idéias, de vontade de construir, desconstruir, reconstruir.

Ver a Fernanda em cena é oferecer a si mesmo uma deliciosa dose de intensidade contra a atmosfera cínica-blasé destes nossos tempos. A gente anda pelo fashion mall, observa aquelas vitrines cheias de belezas inalcançáveis, aquela gente bem tratada, mas quando entra no teatro é que percebe: quantas coisas deixamos fora de nossa vida, não por falta de dinheiro ou vontade, mas frequentemente por acomodação, cansaço, solidão. O que a gente deixa de fora da nossa vida não é (do mesmo modo) facilmente alcançável pelas nossas mãos. Mas tão mais recompensante...! E Fernanda nos lembra disso da forma mais simples, despojada, apenas contando com um banquinho, iluminação exata, e seu talento de atriz.

Na peça tudo é simples, direto, claro. Pensei então que a vida deve ser assim: simples, direta, clara. A partir da peça, penso que conectar-se na vida é arrumar nosso verdadeiro lugar: buscar estar perto de pessoas que se alegram com nossa sensibilidade, que se movem e se alimentam de "matéria" parecida, procurar frequentar lugares e paisagens que nos alimentem e estimulem. Simone de Beauvoir, vivida por Fernanda, encontrou seus verdadeiros "pares" no universo de Sartre. Nem mesmo uma paixão arrebatadora, como a que ela viveu com o americano Nelson Algren, foi capaz de fazê-la desistir desta sua primeira verdadeira escolha, tão fundamental. Não me refiro à escolha por Sartre, mas à escolha pelo que alicerçava sua vida: seu ambiente cultural, suas crenças, ideais, seus amigos, sua cidade, forma e estilo de viver.

“Viver sem tempos mortos, gozar a vida sem entraves" é um slogan de maio de 1968 que deveria se perpetuar por todas as vidas de todos os tempos. Simone de Beauvoir na pele da Fernanda é um pouco de todos nós que não queremos deixar a vida nos levar, que não nos sentimos plenos nesta era líquida de mensagens com números de toques contados. A peça nos provoca de maneira intensa, e sem máscaras. Em cena, Simone (Fernanda) se entrega, se revela, acolhe a própria ambiguidade (inclusive sexual), sem no entanto fazer apologia da frivolidade.

Claudinho e Bochecha têm seu lugar, mas a escolha pela peça tornou o tempo mais vivo.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ainda sobre o fim




Talvez por tudo o que escrevi no post abaixo, o filme "Apenas o fim", que me pareceu razoável, tenha uma força bastante... delicada. Descobri em algum ponto do filme uma beleza que dessacraliza este momento - o fim - temido por tanta gente e, curiosamente, eternizado.
Sim, seja por puro medo, apego, ou, no caso, por amor, nós imortalizamos o fim, o que é certamente um paradoxo. O fim acaba durando muito mais do que deveria.

"Apenas o fim" foi sentido por mim como uma homenagem a tudo o que acontece antes do fim. E depois.

E depois.
E depois.
E depois.




Apenas o fim


Esta semana foi marcada por fatos que me fizeram pensar no fim. Pensar no fim de todas as coisas: dos momentos, dos relacionamentos, da vida. A reflexão teve início quando fui ver o filme “Apenas o fim”. O próprio nome foi, por si só, bastante sugestivo: o fim não é tudo. O fim é... apenas.

O fim é, apenas.

Entre o começo e o meio e entre o meio e elezinho ali, se estendendo ao infinito, muita coisa se passa. Agora eu te faço uma pergunta: Quem é Michael Jackson, o cantor de cara quase transparente e olhos tristes, ou aquele que dançava Billie Jean de luvas brancas e chapéu inclinado na cabeça, com nariz (ainda) mais pra bolachudo, pele quase negra e cabelo quase black power, sem escova progressiva? Para mim, Michael Jackson não é a figura envolvida em polêmicas, que sacudiu o filho da sacada do edifício, e que morreu solitário de algum problema do coração. Este foi ele no fim, foi apenas o seu fim. Mas ele “aconteceu” na trajetória entre o começo e o meio da sua existência, e em algum espaço contido entre o meio e o fim.

Tem gente que esquece de si mesmo em algum lugar do passado - e fica tentando se “copiar” a vida toda, repetindo uma batida monocórdia. Essas pessoas viram máscaras enrijecidas, sem vigor ou expressão. Tem gente que passa toda uma existência sem que talvez nunca chegue a “ser” de verdade. Porque “ser”, eu acho, requer grande liberdade e ousadia. E tem gente que escolhe alguns caminhos... que apequenam, e não correspondem talvez à sua verdadeira estatura.

O fim, nem sempre, está à altura do que (se) foi.

Michael se imortalizou para mim (e para muitos) quando, entre outros milhares de momentos, em pleno estádio do Morumbi lotado, eu pude vê-lo – a olho nú!! – com o corpo inclinado formando 45 graus com o chão. E depois deslizando aqueles pés ao embalo de gritos histéricos de uma admiração transbordante e deslumbrada.

Em algum momento da vida, quando ainda não era um retrato desbotado de si mesmo, Michael inventou um jeito próprio de ser, de se mover e sentir o som, que vai pulsar ainda por muito tempo.

Portanto, este fato que estampa as capas dos jornais de hoje, foi o fim, apenas.

O ponto final que me fez pensar na beleza de tudo o que transborda, e se eterniza.


quarta-feira, 20 de maio de 2009

Caminhando e cantando: Relacionamento Já!


Aconteceu outro dia na Avenida Rio Branco a “Passeata dos sem namorado”, que reuniu cerca de 400 pessoas, de todos os credos, raças e idades. No discurso dos manifestantes, nota-se a ânsia por encontrar aquela delicada serenidade experimentada quando nos sentimos amorosamente ligados a outro individuo. Algumas amigas minhas “tacaram pedras” na manifestação: “coisa de gente que não tem o que fazer”, “o fim da picada”. Já eu não vejo problema no fato dessas pessoas terem se juntado e feito uma caminhada pelo centro da cidade em plena luz do dia. Ao menos se reuniram para dividir publicamente certa aflição que vejo presente aqui e acolá, no discurso de muitas mulheres e de alguns homens.

Quaisquer que tenham sido as reais motivações para o surgimento daquela aglomeração - credulidade, falta do que fazer, pobreza de espírito, vontade de aparecer, ou genuína curtição – eu aprovo. Achei a idéia uma farra. Aprecio movimentos e manifestações, embora seja um pouco triste o cenário que os motiva a existir. Não estou "em busca de um namorado", e acho engraçado quando acontece de algumas pessoas se dirigirem à categoria dos “solteiros” como se tudo o que precisassem na vida fosse de um “par”. Não acho, no fundo, que a passeata seja por namorados(as). Talvez, um manifesto em prol dos relacionamentos. Amizade, para mim, é a espécie de relação mais importante de todas. Se tivéssemos hoje em dia, em lugar dessas “ficadas, rolos e pegações” a velha e boa amizade colorida.. Vejam que diferença! Na década de 60/70, usavam esta bela palavra, e ela ainda vinha seguida de “colorida”.. Hoje em dia... Cadê a amizade? Cadê colorida?

Vejo homens e mulheres se achando super contemporâneos quando na verdade o que fazem é seguir normas de um padrão que diz: tenho pavor de compromisso, tenho horror à relação, não se aproxime demais que eu te deleto! Gostaria de saber quando foi que a palavra compromisso deixou de significar afeto, cuidado com o outro, para significar apenas um manto de obrigações chatas e e cobranças. Compromisso a gente tem com quem a gente gosta, não apenas com marido e mulher, namorado e namorada. É sair um pouco de si e pensar: será que fui sincera(o) quando disse aquilo? Será que agindo assim estarei sendo mané? Relacionamento para mim é troca, é soma. Não tem simplesmente aquele sentido de "comecei um relacionamento". Portanto eu decreto, em alto e bom som, sem medo de ser piegas e deixando de lado a hipocrisia: Eu quero me relacionar! Eis meu manifesto singelo e individual, mas não menos barulhento. Claro, não é qualquer um ou qualquer uma que terá o privilégio da minha emoção. Para alguns, a amizade, para outros, um olhar de empatia, ou ainda minha reprovação. Mas não passo a vida indiferente. E acho que muito mais importante do que um(a) namorado(a) nessa vida é a gente não perder jamais o frescor de sair por aí sem eira nem beira, deliberando seja o que for em movimentos e caminhadas.

Muitas vezes, um namorado até atrapalha...Mas relação de verdade, nunca é demais.

domingo, 17 de maio de 2009

Revolução verdadeira é a que muda o coração


Recomendo o filme: "Entre os muros da escola". A princípio, me pareceu não trazer grandes novidades. Cheguei a achar meio cansativo. Mas, vejam que surpresa, quando cheguei em casa, e já no caminho de volta da sala de cinema para o meu quarto, o filme surtiu bom efeito. Aparentemente chovendo no molhado, ele é sutil e delicado. Quebra estereótipos. O professor bem que tenta alcançar, se comunicar com os alunos, mas não consegue. Acho que devia ser exibido em todas as escolas e universidades. Repito uma frase linda de um forró cantado por um ex eterno amor meu: "Revolução verdadeira é a que muda o coração". Acho que a verdadeira revolução, se vier, virá pela educação. E qual o tipo de educação que nós queremos? Da minha parte, aquela que fala ao afeto e ao coração. Não dá para ficar defendendo um ensino que só fala do cateto da hipotenusa. Ensinar é conflitante, então é preciso abrir espaço para o conflito, acolher o conflito e aprender com ele. Ninguém tem a voz da verdade. Nem os alunos, nem o professor. É preciso muito mais humildade nesta Terra, para que a verdadeira aprendizagem possa florescer por aí.

Sobre sorrir e chorar


Tenho andado sumida, talvez porque ande mais ocupada com a vida do que com reflexões sobre a vida. Bom mesmo é se ocupar das duas coisas ao mesmo tempo: eis o meu atual desafio. Incrível que depois de ter caído, chorado, sofrido, pareço ter ficado mais bem humorada. Às vezes um sorriso brota do canto da minha boca, quando as situações me parecem as mais inusitadas. Um sorriso que vem de um fracasso, mas também, de uma ponta de esperança. E não é que li, na Revista de Domingo, uma frase da Marisa Orth, a atriz, dizendo: "As melhores piadas começam quando a maçaneta sai na mão. É quando a fé acaba que você começa a ficar engraçada". Concordo plenamente. O que seria do humor sem a tristeza?

Hoje consigo sorrir ao ver a dificuldade alheia, sem achar que ela é minha. Hoje consigo sorrir vendo minha própria dificuldade, e penso que um dia, terei outras, não mais essa(s). Experimento outras paixões. Me apaixono a cada dia. A vida é muito curta para ficarmos para sempre chorando. A propósito: a foto não tem relação direta com o post. Eu ia inserir outra, mas veio essa, então deixei o destino agir... e deixei, já que tem o dom da leveza e da graça.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Novas idéias


Voltei, depois de longo tempo em silêncio... Bem, fui ver o filme indiano que ganhou o Oscar, “Quem quer ser um milionário”. Gostei, mas parece uma espécie de novelão. Nada daquilo é muita novidade para quem lê e ouve notícias sobre a guerra do tráfico e os forninhos das favelas, onde se queimam pessoas vivas, condenadas por um tribunal informal.. Tudo isso é muito trash, é um pesadelo do qual a gente sabe que tão cedo não vai acordar.. Vendo esse tipo de filme saio sempre do cinema com vontade de fazer alguma coisa, mas nunca sei bem o quê... Escrever? É alguma coisa, ao menos...

Estou fazendo um curso de cinema brasileiro que simplesmente ando adorando. Vejo filmes do Cinema Novo e me encanto com aquela época de tanto engajamento, de tanta fé na transformação pela via estética, pela via política. No momento, escrevo morrendo de sono, mas cheia de fé e esperança que esses filmes, mesmo quando desesperançados, me fazem sentir.

Cada dia mais, me interesso menos pelas opiniões das pessoas, do que pelas atitudes. Mesmo uma pessoa com uma visão de mundo aparentemente conservadora, pode ser mais aberta à transformação do que uma outra, que aparentemente concorde com tudo o que digo mas que lá no fundo permanece imutável e enrijecida nas suas crenças, e não move uma palha na direção de suas próprias palavras. Ando encantada com atitudes. E com idéias, claro, sempre idéias, que possam se transformar em ação. Se você tem um bom argumento, eu vou certamente parar para te ouvir. Talvez porque esteja também em companhia de um livro sobre o filósofo Sócrates, que adorava, antes de tudo, perguntar, desconstruir. Sabia que a “verdade” não estava nas mãos de ninguém. A “verdade” está sempre em construção e depende do que se observa, e do observador, e de tantas outras coisas... Por isso gosto de pessoas que duvidam, e que se abrem para o que pode vir a ser.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Separar é preciso - parte II


Alan, meu amigo leitor, sempre me insufla a escrever mais e mais com seus comentários... Vamos lá! Lendo o seu comentário no post anterior, caríssimo Hallan's, e relendo meu post anterior, deu vontade de voltar ao tema. A separação, no meu ponto de vista, é um "eterno retorno". A gente se separa para se aproximar, eis o paradoxo. A escrita, por exemplo, que cá embaixo eu digo ser uma tentativa de se separar do "todo" ... não deixa de ser, ao mesmo tempo, uma tentativa de aproximação, de compreensão, de formar um elo.

O fato de "cortar o cordão umbilical" não significa que vamos deixar de estar, pelo resto de nossas existências, inexoravelmente ligados aos nossos pais, antepassados, etc. Mas, imagina se não houvesse este corte, imagina se a gente andasse por aí sendo arrastado mundo afora pela barriga da nossa mãe... Seriamos um com ela, e não seriamos ninguém...

Imagina um mundo onde todos sofram as mesmas dores, com a mesma intensidade... Quem poderia ter força para levar a marcha adiante, apontar outros caminhos, ou mesmo dar alento aos que mais precisam? Penso mais ou menos por aí... Se você tem depressão e eu me afogo na sua depressão, como poderei te ajudar? A gente só pode ir ao encontro do outro se tivermos equilíbrio interno e serenidade para ajudar o outro, sendo um com ele, e permanecendo, ao mesmo tempo, inteiro. Isso em certa medida, é claro. Tem vezes que a gente realmente não quer e não deve e não consegue se separar de nada.

O que digo vale não apenas para o sofrimento, mas para tudo: chatice alheia, felicidade que vem dos outros... Por exemplo: chatice... Se a gente absorve a alheia, cadê tolerância para lidar com "a" "o" chata(o)? Pode ser apenas um momento chato... É uma diferença sutil, mas como uma vez bem observou meu amigo Fabrício: “o sutil pode ser muito... opressor”.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Tempo doido


Tempestade de neve em Londres, como não se vê há 18 anos. No Rio, o verão alterna um mormaço de céu cinzento com outro azul, sempre imprevisível.

Não existem mais estações do ano, e a gente vai passando os dias com a impressão de que estamos sempre no mesmo momento. Na correria, a gente vai se consumindo sem prestar atenção na suscetibilidade do tempo. No máximo, paramos para reclamar: "nossa, que calor!" ou "humm.. é só chegar o final de semana que faz frio...!".

O fato é que sou muito ligada ao clima. Dependendo do aspecto do dia, meu humor e minha sensibilidade se modificam. Em um dia de sol, sou feliz com muito mais facilidade... Por que somos assim? Talvez eu não tenha concluído direito aquela etapa da vida, lá na mais "tenra infância", em que a gente precisa se "separar do todo". Na vida, acho que a gente tem que aprender a se "separar" de várias formas dos outros. Se não, ficamos levando pra casa sentimentos que não são nossos, tristezas que não são nossas, cores cinzentas ou azuladas que não vem da gente para o mundo, e sim do mundo para a gente. Isso faz parte, claro: somos humanos, viemos da terra, nos afetamos por tudo. Mas a cada dia, alimento a crença de que precisamos buscar a paz interior, independente do mundo que nos cerca. Só assim, movidos por essa paz, poderemos conseguir – quem sabe? - alguma coisa melhor para o futuro, que é sempre um "agora". Eu só acredito na revolução alcançada por uma legião de pessoas que encontram a sua paz e a sua autonomia interior. A grande maioria, vive acorrentada: ao passado, ao tempo, ao clima, aos outros.

Li um livro interessante, do Osho, em que ele diz que precisamos esquecer o futuro para então nos despregarmos do passado e vivermos efetivamente o "agora". Gostei disso. O agora a gente vive sempre por um triz... Em geral estamos pensando no que vamos fazer quando sairmos do trabalho, quando chegarmos em casa, quando sairmos com os amigos, formos naquele aniversário, naquela festa... andamos conectados no amanhã, no final de semana, na semana que vem. E desta forma, as coisas vão passando e o passado fica engordando, pesando nas costas.

Muitas vezes já me peguei escapando do "agora", seja porque ele está com aparência tediosa, seja porque me exige demais. O fato é que muitas vezes a gente foge para um futuro ou um passado como uma criança que fica imaginando seres fantásticos saindo de dentro do armário, em vez de abrir a porta e dar uma olhadinha atenta. Simples assim.

Fugindo do presente, a gente complica tudo, torna tudo meio sonho...

Experimentamos diversos partos ao longo da vida. Ao longo da vida, precisamos cortar o cordão que nos une ao tempo, aos outros, até mesmo para decidirmos, quando der vontade, nos unir novamente e buscar aconchego no útero da terra, no colo de tudo o que existe nesse mundo.

Já viu como é bom ficar olhando a lua e nos tornarmos, nós mesmos, a lua? Estagnados de pura admiração e deslumbramento, ficamos sem palavras, apenas sentindo...

O ator faz isso por profissão: em vez de se separar, ele se torna o outro. As palavras, desempenham papel contrário: muitas vezes, são formas da gente se separar das coisas. Ao nomear, estamos nos separando... Certamente é por isso que escrevo: para recortar algumas formas que tornam a vida menos absurda, mais palatável. Para modelar o caos. Separar é preciso. E tem momentos em que é preciso também o contrário: calar, totalizar, sermos todos um só.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Você é o lugar onde você mora?



Continuando as divagações sobre as nossas paisagens (é bom começar lendo o post abaixo)... infelizmente tem gente que discrimina certos locais e pré-julga as pessoas simplesmente tomando por base o bairro onde elas moram. "Hum... patricinha(o)"; "Hum... suburbana(o)", etc, etc.

Tem me chamado muita atenção hoje em dia a mentalidade estreita. Essa mentalidade não discrimina pessoas de nenhuma raça, credo ou região. Ela é democrática na forma de afetar os seres humanos.

Não há como negar que uma parte de mim está intrinsecamente ligada aos contornos da Lagoa Rodrigo de Freitas, ao bronzeado de Copacabana, Ipanema, ao intelectualismo "fashion" dos cinéfilos que freqüentam os cinemas de Botafogo. Fui criada ali, tudo isso faz parte de mim. Minha alegria física e mental, e mesmo meu conceito de uma "vida feliz", estão impregnados dessas paisagens. Inevitável. Bicicletas correndo ciclovias, o vento batendo no rosto, a sensação de liberdade de tomar um chope no meio da rua, ainda de biquíni, a ansiedade de querer conferir as últimas novidades do cenário cultural. Essa ânsia, essa inquietação, são minhas. Sou eu. Cresci cercada de livros, fazendo viagens (grande parte delas, puramente mentais), sendo estimulada a querer procurar o que existe do "lado de lá". Gosto do lugar onde eu nasci e onde ainda respiro. Reconheço em mim o cheiro e as cores do local onde eu moro. Mas felizmente, esse lugar não me condena.

Seja a paisagem externa "feia" ou "bonita", para mim o que conta mesmo é a paisagem que mora dentro da gente. E que embora, e sem dúvida, seja influenciada pelo local onde vivemos e pessoas com quem convivemos, não se nutre exclusivamente deles .

Por isso não entendo, por exemplo, quem reprova o gosto por funk, techno, forró, clássica, samba ou blues em certo tom pejorativo. Ou quem não coloca os pés nas areias da Zona Sul, da Zona Oeste, ou não respira o ar da Zona Norte. Acho que o valor não está nas coisas. Mas na nossa capacidade de enxergar com amplitude, profundidade, e relativizar.

Quais paisagens você enxerga? É isso o que me interessa.

Da sua janela, você enxerga o quê?







Já que estamos falando em mudar de paisagens... Ando pensando algumas "cositas.."

Nós somos nossa família, nossas vivências, nossos amigos. E também somos o lugar em que passamos a maior parte de nossas existências. Recentemente atentei para esta (aparentemente) evidente constatação. Uma vez ouvi falar que a Tati Quebra Barraco, autora de sucessos como "Fama de putona" e "Atoladinha", por mais que tenha faturado o suficiente para comprar um apê longe da Cidade de Deus, não larga sua comunidade natal por nada neste mundo. O meu interlocutor estava um pouco surpreso com a notícia que ele havia lido mas, sinceramente, a informação não me chocou nem um pouquinho. Eis que hoje, ao ter decidido escrever sobre o tema, preferi confirmar a informação e li a seguinte notícia no site "O Fuxico":

"Prestes a completar 27 anos (...) talvez este seja o melhor aniversário comemorado por Tati Quebra-Barraco (...) Apesar de não deixar a comunidade natal, Tati Quebra-Barraco passa boa parte de seu tempo fazendo shows pelo Brasil"

De acordo com a assessoria de imprensa da cantora, "os amigos da Tati já foram convidados e, para se ter uma idéia, serão 600 caixas de cerveja, que terão que ser geladas na piscina".

Hoje em dia, é senso comum pensar que dinheiro é sinônimo de mudança de apartamento, de bairro, de estilo de vida e se possível até de cidade. Pura arrogância. Nós somos também as ruas pelas quais passamos, as paisagens com as quais nos impregnamos, as raízes que criamos.

Se a paisagem que nos impregna não é lá essas coisas, isso poderia nos levar a pensar que o negócio é "sartar fora" assim que possível, para até mesmo nos tornarmos "seres humanos melhores". Mas beleza, minha gente, não é tudo. Vide o documentário "Sou feia mas tô na moda", que mapeia o funk carioca e cujo título é também o nome de um dos batidões da Tati. "Quem ama o feio, bonito lhe parece" já diz o ditado. Aceitar isso, e não se surpreender, é deixar de lado nossa arrogância e perceber que a felicidade não mora apenas nas areias de Ipanema; nos Cafés do Leblon ou ainda nos shoppings e lofts da Barra da Tijuca e afins.

Para mim, a maior pobreza e feiúra de todas, a única que é inaceitável e que me faz ter vontade de passar a vida bem longe, é a pobreza espiritual. Eu penso que vivemos uma época em que impera a feiúra. Mas não é a feiúra da falta de dinheiro e ou da falta de locais chiques e bacanas que me incomoda. Me incomoda mais a feiúra dos horizontes estreitos.

Vejam: a Tati pode querer passar a vida inteira na Cidade de Deus. Mas se a sua mente estiver conectada com o mundo, se a grana que ela ganha contribuir para que ela tenha outras referências, sonhe mais, aprecie outros estilos de vida e tenha a certeza de que sua comunidade NÃO é o centro do universo: OK!!. O dinheiro já terá cumprido algum papel importante na vida da Tati.

Para mim, quase tudo na vida é uma questão de relativizarmos: os nossos problemas, as nossas certezas, o nosso conceito de "beleza"; "pobreza"; "feiúra". Quando vivemos assim, ampliamos nossas mentes, conquistamos o mundo. Mesmo morando em pindamoiangaba.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ano Novo Vida Nova



A sua vida precisa ser renovada?

Passei um ano achando que estava construindo alguma coisa especial. A construção começou a se mostrar meio periclitante, uma espécie de edificação "balança mais não cai". Mas o fato é que caiu. E que bom que caiu.

Eu aprendi muito com esta queda. Acho que amadureci cerca de dez anos de vida. Pena que foi preciso gastar tanto material de construção, tantas palavras, e água e sal.

Mas, enfim. Descobri que estava tentando edificar algo em terreno arenoso, sujeito à abalos sísmicos.

Uma coisa é verdade: se você não muda, não renova seus pensamentos, não transforma as suas atitudes, sua vida continua a mesma. Tenho aprendido que muitas vezes a verdadeira sabedoria consiste em aprendermos a dizer não. Eu sou partidária, quase sempre, do sim. “Sim, vamos tentar”. “Sim, por um mundo melhor”. “Sim, eu compreendo”. “Sim, pode ser uma boa”. Mas o “não” guarda poderes supremos, pode nos abrir novos caminhos. O “não” nem sempre é fracasso. Muitas vezes é defesa, proteção, e sabedoria. Na vida, precisamos dizer muitos “nãos” para que o “sim” tenha realmente sentido.

Desejo a todos que estão desejando “Ano Novo Vida Nova” uma reciclagem total. Eu já separei bem o que desejo “jogar fora” e o que desejo transformar na minha vida. E você? Sabe para o que vai dizer não?

Para você talvez o aprendizado seja outro. Talvez para você o aprendizado consista em ser mais afirmativo. Fazer sinal de “ok”, sorrir e cantar para a vida. Não interessa. O importante é se questionar, e modificar realmente o que estiver fora do lugar (ou já muito formatado).

Comecei esse “processo” decidindo mudar minhas paisagens. Não agüento mais dar vazão ao meu lado “patricinha” e ficar indo a boates lotadas, travando diálogos (?) com seres vazios que não tem quase nada a acrescentar. São espécies de clones que se reproduzem em série. Sempre a mesma musculatura corporal e flacidez cerebral. Em uma mão seguram um copo e na outra, por vezes, um cigarro. Por mais que esses seres possuam apenas dois braços, como todos nós mortais, eles têm o poder de criar ainda outro braço, e outra mão (no caso das duas estarem ocupadas) para te segurar e te enlaçar pela cintura.

Como de patricinha eu guardo tão simplesmente certo gosto musical, decidi renovar o terreno por onde tenho andado, em todos os sentidos. Quero mais samba e menos choro. Mais choro e menos techno. Mais baião e menos balada. Quero mais amizade e menos afeto sem tempero e sem gosto verdadeiro.

E você, já sabe o que vai querer? Está lançado o desafio.