domingo, 21 de setembro de 2008

Relações sem compromisso e a dança do quadrado




Entregar-se ao sentimento é como andar em um vendaval: a gente dá dois passos para frente, três para trás, dois para frente... mas o fato é que a gente caminha, sente o ar batendo no rosto e enchendo nossos pulmões.

Noto que hoje em dia tem muita gente iniciando relações onde já está preestabelecido que o bacana é não se entregar ao sentimento. O bacana é apenas "curtir o momento" (leia-se: sair, transar, rir, trocar algumas palavras de carinho) e se manter distante de qualquer coisa que lembre "compromisso". Não querer compromisso é um "sintoma" manifestado por muitos integrantes da minha geração, e das gerações mais novas.

É como se cada um vivesse girando em torno de si próprio (cada um no seu"quadrado", como naquele vídeo do YouTube que subitamente se parece tão metafórico).

Entregar-se ao sentimento está meio fora de moda, talvez porque modifique a gente de verdade, derrubando nossas certezas, desestabilizando nossas rotinas. Amar, então, dá o maior trabalho. Melhor evitar. Para alguns chega a ser meio aterrorizante, sempre tão misterioso. Amar exige que a gente saia um pouco do nosso universo (do nosso "quadrado"), ultrapasse nossos limites.

O que na geração hippie era chamado "amizade colorida" se degenerou no que hoje o pessoal chama de "rolo". Hoje as pessoas "ficam", "pegam" (esse verbo ilustra bem o tipo de relação em voga). Do termo cunhado para caracterizar o amor livre, parece ter ido embora a "amizade" e ficado só essa coisa meio colorida, meio desbotada, que não ata nem desata. Alegrias provisórias, satisfações instantâneas. Por vezes essas relações são o começo de um caminho. Ou uma experiência interessante. Quem sabe uma divertida forma de exercício da sexualidade. A "coisa" começa a ficar complicada quando se começa a viver mais de uma relação desse tipo ao mesmo tempo. É como querer ver dois ou três filmes de uma só vez. Confunde a cabeça e, no final, fica aquela sensação de indistinção: não se sabe se determinada cena foi de uma ou de outra história. Quem falou mesmo aquilo? O personagem "A" ou "B"? E cadê o sentido de tudo, da experiência vivida? Foi pro espaço.

Sinceramente, não gosto de nada que faça eu me sentir pela metade. Para entrar em qualquer tipo de relação que seja, gosto de me comprometer (o que para mim significa estar inteira, deixar fluir naturalmente o sentimento) e me lançar de verdade. Bom mesmo é voar sem ter o destino traçado. Não quero delimitar onde está o teto. Só assim, tudo (ou nada) pode acontecer.

3 comentários:

Anônimo disse...

Aprendi que o que sabemos de cor, sabemos de coração. Decorar seria dar cor, dar coração a coisa.
Então seria bobagem dizer que amizade colorida é aquela que tem cor?

Anônimo disse...

Julica,

vocÊ é uma ótima escritora! Realmente adorei este texto, muito bem expressa sua idéias e maravilhosamente bem escrito. Qndo é que vc vai escrever numa revista???????

Bjocas da July

Julia disse...

Jujuca, adorei este texto e concordo com vc. Chega de relações superficiais, é difícil se entregar por inteiro, sim, dá trabalho, requer dedicação. Nem todos estão preparados para isso, mas os que estão ganham muitos pontos na vida, na alma, na construção de um relacionamento, na construção de um elo, uma coisa muito bonita que se chama amor.

Eu te amo, amiga.
beijos