terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sobre grunhidos e macacos



Já que estamos falando dela, que foi consagrada como a "escritora do indizível"... decidi falar aqui da insuficiência da linguagem para dar conta da experiência humana... Noooossaaaaa! Alguns acharão isso muito "hermético", mas não é não. O pensamento aqui é até bastante rústico. Às vezes acho que quanto mais a humanidade foi se sofisticando em termos de aquisição de linguagem, mais ela ganhou em termos de mal entendido. Pense bem: no tempo do homo sapiens não existia o famoso "D.R" - Discutir a Relação. Se a macaca estava irada, ela dava uns murros no chão, batia com a "clave" na cabeça do macho, e ia dormir tranqüila. Ou vice-versa.

Quando olho para trás, percebo que a maior parte de meus desentendimentos foi em decorrência delas, as palavras. Você diz uma coisa e a pessoa entende outra. Ou a pessoa diz uma coisa que te remete a "traumas" de sua infância e você sofre em dobro (porque o sofrimento que vem da memória, das interpretações dos fatos, é de qualidade ainda mais requintada, do tipo tortura chinesa: devagar e sempre...). E quando você lembra de certas coisas ditas que não te "remeteram" a absolutamente nada, mas que te feriram como facadas no estômago? E a hora de dizer "eu te amo" para alguém? Pode parecer que não, mas tem muito casal que passa a amar depois disso, ou, ao contrário, se sente tão inferiorizado diante dessa expressão que acaba desconfiando do sentimento e encerrando a relação. Outro dia ouvi no trabalho uma frase sensacional. Um colega disse assim: "Até que a morte os separe" é um convite ao assassinato. Por que essa frase, proferida por um padre, causa em quase todo mundo uma sensação de asfixia? E porque a palavra "colega" irrita tanto?

Apesar de nós, humanos, nos acharmos "muito bons", a verdade é que ainda grunhimos como macacos. Eis toda dor e delícia de sermos o que nos tornamos, ao longo da evolução da espécie. Tenho certeza de que as palavras não correspondem às coisas. Elas criam as coisas. E destroem também. O que há de melhor nelas é o que elas não conseguem dizer. Vou me sentir muito feliz no dia em que conseguir dar menos valor às palavras e realmente ler e viver nas entrelinhas. Como fazia a Clarice.

2 comentários:

Anônimo disse...

No início era o grunhido e o grunhido se fez berro e o berro aliviou a dor. Aquela dor horrível de ter que andar com os dois pés, descer das árvores e pisar no chão empedregado.
De todas as palavras a que mais gosto é "atavismo". Ela por si só explica o que eu quero dizer, ou melhor, berrar.

Anônimo disse...

MALDITOS DIÁLOGOS
Tudo que foi visto, feito, construído, arrumado, sonhado, comprado, combinado, sentido, curtido, bagunçado, organizado, vivido, perde-se facilmente, infelizmente, para aquilo que se é dito, falado, verbalizado.
Palavras, você tem razão. O silêncio vale muito mais que mil diálogos malditos. Adoro te le