Festival do Rio se despede da cidade, e para quem tiver oportunidade de assistir, recomendo enfaticamente “Las viudas de los jueves”. O filme me instigou já desde o título – “Viúvas sempre às quintas”. A exibição se manteve à altura: as imagens são de uma beleza plástica, envolvente, irretocável. E os atores e atrizes, igualmente irretocáveis. Já na primeira cena somos sugados pela trama ao ver corpos de homens que mais parecem estátuas gregas submersos em uma piscina igualmente - e dramaticamente - bela. Parece até uma pintura, um ballet.
Não vou narrar a história, baseada no livro de Cláudia Piñeiro. Deixo para cada um a surpresa da descoberta. Escrevo apenas sobre algumas de minhas impressões. O cenário me fez lembrar “Match Point”, de Woody Allen. Em vez da aristocracia londrina, no filme de Marcelo Piñeyro quem desfruta de mansões, jardins verdejantes e intermináveis quadras de tênis é a elite de Altos de la Cascada, bairro fechado de Buenos Aires, espécie de grande condomínio. O pano de fundo é a Argentina dos anos 2000, mergulhada em uma crise não menos dramática do que o imenso vazio no qual afundam aqueles corpos sublimes.
“Viúvas sempre às quintas” me pareceu, sobretudo, um filme sobre a relação entre homens e mulheres, com uma temática bastante atual. Crise econômica, de valores, dos sentidos - total falência de vidas dominadas pela ostentação do consumo e pela sedução do dinheiro. Sempre às quintas-feiras, aproveitando a ausência dos respectivos maridos que se reunem para jogar, as mulheres - por este motivo chamadas de ‘viúvas’ – se encontram também.
O filme faz pensar nos papéis ainda hoje – não raramente - assumidos pelos casais. De um lado, homens provedores, esportistas e descolados. De outro, futeis e delicadas mulheres que projetam suas vidas nas costas desses maridos igualmente frágeis, embora cheios de músculos. Se você olhar à sua volta, inevitavelmente encontrará casais assim. Homens e mulheres, casados ou solteiros, que se comportam deste modo: um como anteparo e espelho do outro. Revelando e sustentando imagens difíceis de se carregar.
As vidas das ‘viúvas’ daquele condomínio parecem girar em torno desse ideal masculino de solidez, firmeza, poder, virilidade. Pouco espaço para dúvidas, reflexões, questionamentos, trocas verdadeiras. Tudo parece feito de papel, artifícios, vaidades, invejas. Além dos maridos, que outros cadáveres aquelas mulheres velam?
No entanto, mesmo no condomínio de Buenos Aires, emergem forças de vida menos pusilânimes, que deixam o espectador com uma sensação gostosa, de verdade invadindo a alma. O filme é desconsertante e faz pensar. Sobretudo para quem, como eu, pouco tempo depois do cinema, acaba esbarrando em nichos de vida bem parecidos com os de Altos de la Cascada logo aqui, após o Morro Dois Irmãos. Vez ou outra, a realidade carioca assombra ao invadir limites debilmente traçados. Mas essa já é outra história, que renderia muitos outros capítulos.
Não vou narrar a história, baseada no livro de Cláudia Piñeiro. Deixo para cada um a surpresa da descoberta. Escrevo apenas sobre algumas de minhas impressões. O cenário me fez lembrar “Match Point”, de Woody Allen. Em vez da aristocracia londrina, no filme de Marcelo Piñeyro quem desfruta de mansões, jardins verdejantes e intermináveis quadras de tênis é a elite de Altos de la Cascada, bairro fechado de Buenos Aires, espécie de grande condomínio. O pano de fundo é a Argentina dos anos 2000, mergulhada em uma crise não menos dramática do que o imenso vazio no qual afundam aqueles corpos sublimes.
“Viúvas sempre às quintas” me pareceu, sobretudo, um filme sobre a relação entre homens e mulheres, com uma temática bastante atual. Crise econômica, de valores, dos sentidos - total falência de vidas dominadas pela ostentação do consumo e pela sedução do dinheiro. Sempre às quintas-feiras, aproveitando a ausência dos respectivos maridos que se reunem para jogar, as mulheres - por este motivo chamadas de ‘viúvas’ – se encontram também.
O filme faz pensar nos papéis ainda hoje – não raramente - assumidos pelos casais. De um lado, homens provedores, esportistas e descolados. De outro, futeis e delicadas mulheres que projetam suas vidas nas costas desses maridos igualmente frágeis, embora cheios de músculos. Se você olhar à sua volta, inevitavelmente encontrará casais assim. Homens e mulheres, casados ou solteiros, que se comportam deste modo: um como anteparo e espelho do outro. Revelando e sustentando imagens difíceis de se carregar.
As vidas das ‘viúvas’ daquele condomínio parecem girar em torno desse ideal masculino de solidez, firmeza, poder, virilidade. Pouco espaço para dúvidas, reflexões, questionamentos, trocas verdadeiras. Tudo parece feito de papel, artifícios, vaidades, invejas. Além dos maridos, que outros cadáveres aquelas mulheres velam?
No entanto, mesmo no condomínio de Buenos Aires, emergem forças de vida menos pusilânimes, que deixam o espectador com uma sensação gostosa, de verdade invadindo a alma. O filme é desconsertante e faz pensar. Sobretudo para quem, como eu, pouco tempo depois do cinema, acaba esbarrando em nichos de vida bem parecidos com os de Altos de la Cascada logo aqui, após o Morro Dois Irmãos. Vez ou outra, a realidade carioca assombra ao invadir limites debilmente traçados. Mas essa já é outra história, que renderia muitos outros capítulos.
2 comentários:
Parabéns! Gostei do texto!
Também gostei muito do seu texto, e fiquei curiosa para ver esse filme... como faço para vê-lo? Existe possibilidade de baixar na internet?
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