Quando eu nasci, um anjo tonto - desses que vivem na sombra - soprou no meu ouvido: vai lá, Julia, agir sem defesas na vida! Ama a teu próximo como a ti mesma. Se o próximo for querido, tente acolher suas falhas, seus tropeços. Seja amorosa, franca, afetiva. Não sinta raiva, porque a raiva corrói a alma, e o coração. Exponha os seus sentimentos e salte de cabeça, se achar que vale a pena.
Acontece que o anjo nem sempre tem razão. Faz bem a gente sentir o coração batendo mais forte. Mas se a afetividade do outro “ser” não corresponde à sua, saia correndo!
Experimente fazer como o personagem de Tom Hanks em "Forrest Gump": simplesmente, corra. Ainda que, a princípio, sem direção. Encha os pulmões de ar, reze uma novena, medite enquanto corre. E siga correndo.
Mulheres têm por vezes um estranho gosto pelo papel de psicóloga. Mas, francamente: a profissão é desgastante e, fora do consultório, não traz qualquer recompensa.
Outro tipo de encruzilhada é a que se trava entre um ser humano comunicativo, que gosta de falar sobre o que sente, e outro que não sabe sequer o que sente, que muda a cada segundo, e não tem interesse em se fazer compreender (nem mesmo em se compreender). Para onde vai este diálogo? Existe diálogo? Ruído permanente.
Não adianta. Antes de se perguntar quem é o “outro” que te acompanha, pergunte a si mesma: quem é você? Com que tipo de “outro” deseja andar? E para onde deseja andar?
Eu aprecio as verdadeiras relações. Adoro trocar, me comunicar, me fazer entender. Buscar compreender. Portanto, se o barato da “figura” não é esse... fuja! E exercite o que um ex namorado meu (já que estávamos falando deles no post abaixo) me recomendou outro dia: emitir o famoso f.....da-se!
Sentir raiva faz muito bem. Em certos momentos é libertador.
Os anjos no fundo sabem que o nosso afeto a gente só deve endereçar a quem realmente merece. E se o mundo carece de afeto (ah, tão pouco afeto no mundo...) problema dele! Para merecer o seu, é preciso continuar merecendo. Diariamente. Constantemente. Permanentemente.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
Amizade entre ex namorados - é possível?
Haviam se separado há mais de uma década. Às vezes, ao meio dia, ele telefonava. Dizia para ela sintonizar no “canal X” – já que a tevê transmitia uma entrevista imperdível. Outras vezes, de noite (e mesmo à meia noite) ele ligava. Anunciava que iria escovar os dentes e depois dormir. Então trabalhavam, tomavam chope, e até café da manhã degustavam, juntos. Contando, ninguém acredita. Entre este ex casal, nada mais existe além de uma bela, verdadeira e profunda, amizade.
Há quem acredite em vida após a morte, vida além da Terra, em político honesto e em amizade entre ex namorados. Pois eu declaro, sem qualquer vestígio de vergonha, que faço parte deste grupo de pessoas. Ainda mais depois de ter ouvido, há pouco, a história relatada acima. Credulidade? Digamos que eu seja uma pessoa esperançosa. Dessas que procuram ver a vida do modo mais improvável, de ângulos inusitados. Sempre com boa dose de fé.
E amizade é o que de melhor levamos – alguém duvida?
Além disso, confesso que sou um ser teimoso, “com a lua, regendo os afetos, no signo de touro”, observaria um astrólogo. O que torna qualquer tentativa de preservar algo de bom... tentadora. Mas, muita calma nesta hora! Para que a amizade floresça é preciso tempo. É preciso superar as mágoas do final do relacionamento e, sobretudo, não fazer da amizade aquela desculpa para outro tipo de reaproximação.
Ex namorados são os caras que em geral melhor nos conhecem. Se a relação acabou, quem sabe não dá mais certo em outro “formato”? Mas – novamente - atenção! Amizade boa entre ex simplesmente acontece. Só mesmo o bendito tempo nos indica quem veio para passar, ou para ficar. Como diz Mario Quintana... “Amizade é um amor que nunca morre”.
Quando digo “amigo” não me refiro necessariamente àquele que te liga quase toda semana, para quem falamos sobre os novos pretendentes ou com quem compartilhamos os melhores filmes em cartaz. Um ex namorado não suportaria tudo isso assim, de uma vez só. E nem você da parte dele! Aqui o que eu chamo de amizade é aquela doçura, o acolhimento de quem já teve você nos braços e sabe do seu valor e importância no mundo. Isso é possível entre ex namorados, ficantes, amantes, mulheres e maridos.
Tenho um amigo - ex namorado - que já me deu um empurrãozinho para um belo emprego. Quando preciso, ele surge como um anjo, em diversas situações. Tem outro que sempre liga no dia do meu aniversário – e eu, no dele. Quando nos encontramos é aquela alegria. Tão boas as lembranças. Outros, não ligam. Mas a gente sabe que se importam.
Tem ex que rende ainda alguns beijos. Que vale um abraço gostoso. Mas lá no fundo - você sabe – não pode oferecer algo mais. Tem ex que ganha sobrevida, ex que toma chope em boteco, conta sobre as atuais, apresenta a noiva, e tenta te dar beijo com gosto de língua. É a melhor das sensações. Afinal, beijo com gosto de língua indica que a atração realmente se foi. Ficou a amizade.
Claro, existem aqueles caras que te deixam tão somente com uma “baba” de ódio no canto da boca, tamanha falta de amizade e compreensão. Mas esses são mais fáceis de abrir mão. E também esses, abençoados pela amnésia cumulativa que vem com o tempo... estão sujeitos à dádiva do perdão.
Mais do que nunca, acredito que a amizade seja o verdadeiro amor - bem-sucedido. E que o verdadeiro amor só existe quando fundado na mais profunda amizade.
Este post é uma homenagem aos “ex”. Que mesmo quando mortos, seguem vivos. Nos tornando melhores, piores, melhores... mais espertas, e maduras.
Há quem acredite em vida após a morte, vida além da Terra, em político honesto e em amizade entre ex namorados. Pois eu declaro, sem qualquer vestígio de vergonha, que faço parte deste grupo de pessoas. Ainda mais depois de ter ouvido, há pouco, a história relatada acima. Credulidade? Digamos que eu seja uma pessoa esperançosa. Dessas que procuram ver a vida do modo mais improvável, de ângulos inusitados. Sempre com boa dose de fé.
E amizade é o que de melhor levamos – alguém duvida?
Além disso, confesso que sou um ser teimoso, “com a lua, regendo os afetos, no signo de touro”, observaria um astrólogo. O que torna qualquer tentativa de preservar algo de bom... tentadora. Mas, muita calma nesta hora! Para que a amizade floresça é preciso tempo. É preciso superar as mágoas do final do relacionamento e, sobretudo, não fazer da amizade aquela desculpa para outro tipo de reaproximação.
Ex namorados são os caras que em geral melhor nos conhecem. Se a relação acabou, quem sabe não dá mais certo em outro “formato”? Mas – novamente - atenção! Amizade boa entre ex simplesmente acontece. Só mesmo o bendito tempo nos indica quem veio para passar, ou para ficar. Como diz Mario Quintana... “Amizade é um amor que nunca morre”.
Quando digo “amigo” não me refiro necessariamente àquele que te liga quase toda semana, para quem falamos sobre os novos pretendentes ou com quem compartilhamos os melhores filmes em cartaz. Um ex namorado não suportaria tudo isso assim, de uma vez só. E nem você da parte dele! Aqui o que eu chamo de amizade é aquela doçura, o acolhimento de quem já teve você nos braços e sabe do seu valor e importância no mundo. Isso é possível entre ex namorados, ficantes, amantes, mulheres e maridos.
Tenho um amigo - ex namorado - que já me deu um empurrãozinho para um belo emprego. Quando preciso, ele surge como um anjo, em diversas situações. Tem outro que sempre liga no dia do meu aniversário – e eu, no dele. Quando nos encontramos é aquela alegria. Tão boas as lembranças. Outros, não ligam. Mas a gente sabe que se importam.
Tem ex que rende ainda alguns beijos. Que vale um abraço gostoso. Mas lá no fundo - você sabe – não pode oferecer algo mais. Tem ex que ganha sobrevida, ex que toma chope em boteco, conta sobre as atuais, apresenta a noiva, e tenta te dar beijo com gosto de língua. É a melhor das sensações. Afinal, beijo com gosto de língua indica que a atração realmente se foi. Ficou a amizade.
Claro, existem aqueles caras que te deixam tão somente com uma “baba” de ódio no canto da boca, tamanha falta de amizade e compreensão. Mas esses são mais fáceis de abrir mão. E também esses, abençoados pela amnésia cumulativa que vem com o tempo... estão sujeitos à dádiva do perdão.
Mais do que nunca, acredito que a amizade seja o verdadeiro amor - bem-sucedido. E que o verdadeiro amor só existe quando fundado na mais profunda amizade.
Este post é uma homenagem aos “ex”. Que mesmo quando mortos, seguem vivos. Nos tornando melhores, piores, melhores... mais espertas, e maduras.
Sobre homens e mulheres
Festival do Rio se despede da cidade, e para quem tiver oportunidade de assistir, recomendo enfaticamente “Las viudas de los jueves”. O filme me instigou já desde o título – “Viúvas sempre às quintas”. A exibição se manteve à altura: as imagens são de uma beleza plástica, envolvente, irretocável. E os atores e atrizes, igualmente irretocáveis. Já na primeira cena somos sugados pela trama ao ver corpos de homens que mais parecem estátuas gregas submersos em uma piscina igualmente - e dramaticamente - bela. Parece até uma pintura, um ballet.
Não vou narrar a história, baseada no livro de Cláudia Piñeiro. Deixo para cada um a surpresa da descoberta. Escrevo apenas sobre algumas de minhas impressões. O cenário me fez lembrar “Match Point”, de Woody Allen. Em vez da aristocracia londrina, no filme de Marcelo Piñeyro quem desfruta de mansões, jardins verdejantes e intermináveis quadras de tênis é a elite de Altos de la Cascada, bairro fechado de Buenos Aires, espécie de grande condomínio. O pano de fundo é a Argentina dos anos 2000, mergulhada em uma crise não menos dramática do que o imenso vazio no qual afundam aqueles corpos sublimes.
“Viúvas sempre às quintas” me pareceu, sobretudo, um filme sobre a relação entre homens e mulheres, com uma temática bastante atual. Crise econômica, de valores, dos sentidos - total falência de vidas dominadas pela ostentação do consumo e pela sedução do dinheiro. Sempre às quintas-feiras, aproveitando a ausência dos respectivos maridos que se reunem para jogar, as mulheres - por este motivo chamadas de ‘viúvas’ – se encontram também.
O filme faz pensar nos papéis ainda hoje – não raramente - assumidos pelos casais. De um lado, homens provedores, esportistas e descolados. De outro, futeis e delicadas mulheres que projetam suas vidas nas costas desses maridos igualmente frágeis, embora cheios de músculos. Se você olhar à sua volta, inevitavelmente encontrará casais assim. Homens e mulheres, casados ou solteiros, que se comportam deste modo: um como anteparo e espelho do outro. Revelando e sustentando imagens difíceis de se carregar.
As vidas das ‘viúvas’ daquele condomínio parecem girar em torno desse ideal masculino de solidez, firmeza, poder, virilidade. Pouco espaço para dúvidas, reflexões, questionamentos, trocas verdadeiras. Tudo parece feito de papel, artifícios, vaidades, invejas. Além dos maridos, que outros cadáveres aquelas mulheres velam?
No entanto, mesmo no condomínio de Buenos Aires, emergem forças de vida menos pusilânimes, que deixam o espectador com uma sensação gostosa, de verdade invadindo a alma. O filme é desconsertante e faz pensar. Sobretudo para quem, como eu, pouco tempo depois do cinema, acaba esbarrando em nichos de vida bem parecidos com os de Altos de la Cascada logo aqui, após o Morro Dois Irmãos. Vez ou outra, a realidade carioca assombra ao invadir limites debilmente traçados. Mas essa já é outra história, que renderia muitos outros capítulos.
Não vou narrar a história, baseada no livro de Cláudia Piñeiro. Deixo para cada um a surpresa da descoberta. Escrevo apenas sobre algumas de minhas impressões. O cenário me fez lembrar “Match Point”, de Woody Allen. Em vez da aristocracia londrina, no filme de Marcelo Piñeyro quem desfruta de mansões, jardins verdejantes e intermináveis quadras de tênis é a elite de Altos de la Cascada, bairro fechado de Buenos Aires, espécie de grande condomínio. O pano de fundo é a Argentina dos anos 2000, mergulhada em uma crise não menos dramática do que o imenso vazio no qual afundam aqueles corpos sublimes.
“Viúvas sempre às quintas” me pareceu, sobretudo, um filme sobre a relação entre homens e mulheres, com uma temática bastante atual. Crise econômica, de valores, dos sentidos - total falência de vidas dominadas pela ostentação do consumo e pela sedução do dinheiro. Sempre às quintas-feiras, aproveitando a ausência dos respectivos maridos que se reunem para jogar, as mulheres - por este motivo chamadas de ‘viúvas’ – se encontram também.
O filme faz pensar nos papéis ainda hoje – não raramente - assumidos pelos casais. De um lado, homens provedores, esportistas e descolados. De outro, futeis e delicadas mulheres que projetam suas vidas nas costas desses maridos igualmente frágeis, embora cheios de músculos. Se você olhar à sua volta, inevitavelmente encontrará casais assim. Homens e mulheres, casados ou solteiros, que se comportam deste modo: um como anteparo e espelho do outro. Revelando e sustentando imagens difíceis de se carregar.
As vidas das ‘viúvas’ daquele condomínio parecem girar em torno desse ideal masculino de solidez, firmeza, poder, virilidade. Pouco espaço para dúvidas, reflexões, questionamentos, trocas verdadeiras. Tudo parece feito de papel, artifícios, vaidades, invejas. Além dos maridos, que outros cadáveres aquelas mulheres velam?
No entanto, mesmo no condomínio de Buenos Aires, emergem forças de vida menos pusilânimes, que deixam o espectador com uma sensação gostosa, de verdade invadindo a alma. O filme é desconsertante e faz pensar. Sobretudo para quem, como eu, pouco tempo depois do cinema, acaba esbarrando em nichos de vida bem parecidos com os de Altos de la Cascada logo aqui, após o Morro Dois Irmãos. Vez ou outra, a realidade carioca assombra ao invadir limites debilmente traçados. Mas essa já é outra história, que renderia muitos outros capítulos.
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