terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Você é o lugar onde você mora?



Continuando as divagações sobre as nossas paisagens (é bom começar lendo o post abaixo)... infelizmente tem gente que discrimina certos locais e pré-julga as pessoas simplesmente tomando por base o bairro onde elas moram. "Hum... patricinha(o)"; "Hum... suburbana(o)", etc, etc.

Tem me chamado muita atenção hoje em dia a mentalidade estreita. Essa mentalidade não discrimina pessoas de nenhuma raça, credo ou região. Ela é democrática na forma de afetar os seres humanos.

Não há como negar que uma parte de mim está intrinsecamente ligada aos contornos da Lagoa Rodrigo de Freitas, ao bronzeado de Copacabana, Ipanema, ao intelectualismo "fashion" dos cinéfilos que freqüentam os cinemas de Botafogo. Fui criada ali, tudo isso faz parte de mim. Minha alegria física e mental, e mesmo meu conceito de uma "vida feliz", estão impregnados dessas paisagens. Inevitável. Bicicletas correndo ciclovias, o vento batendo no rosto, a sensação de liberdade de tomar um chope no meio da rua, ainda de biquíni, a ansiedade de querer conferir as últimas novidades do cenário cultural. Essa ânsia, essa inquietação, são minhas. Sou eu. Cresci cercada de livros, fazendo viagens (grande parte delas, puramente mentais), sendo estimulada a querer procurar o que existe do "lado de lá". Gosto do lugar onde eu nasci e onde ainda respiro. Reconheço em mim o cheiro e as cores do local onde eu moro. Mas felizmente, esse lugar não me condena.

Seja a paisagem externa "feia" ou "bonita", para mim o que conta mesmo é a paisagem que mora dentro da gente. E que embora, e sem dúvida, seja influenciada pelo local onde vivemos e pessoas com quem convivemos, não se nutre exclusivamente deles .

Por isso não entendo, por exemplo, quem reprova o gosto por funk, techno, forró, clássica, samba ou blues em certo tom pejorativo. Ou quem não coloca os pés nas areias da Zona Sul, da Zona Oeste, ou não respira o ar da Zona Norte. Acho que o valor não está nas coisas. Mas na nossa capacidade de enxergar com amplitude, profundidade, e relativizar.

Quais paisagens você enxerga? É isso o que me interessa.

Da sua janela, você enxerga o quê?







Já que estamos falando em mudar de paisagens... Ando pensando algumas "cositas.."

Nós somos nossa família, nossas vivências, nossos amigos. E também somos o lugar em que passamos a maior parte de nossas existências. Recentemente atentei para esta (aparentemente) evidente constatação. Uma vez ouvi falar que a Tati Quebra Barraco, autora de sucessos como "Fama de putona" e "Atoladinha", por mais que tenha faturado o suficiente para comprar um apê longe da Cidade de Deus, não larga sua comunidade natal por nada neste mundo. O meu interlocutor estava um pouco surpreso com a notícia que ele havia lido mas, sinceramente, a informação não me chocou nem um pouquinho. Eis que hoje, ao ter decidido escrever sobre o tema, preferi confirmar a informação e li a seguinte notícia no site "O Fuxico":

"Prestes a completar 27 anos (...) talvez este seja o melhor aniversário comemorado por Tati Quebra-Barraco (...) Apesar de não deixar a comunidade natal, Tati Quebra-Barraco passa boa parte de seu tempo fazendo shows pelo Brasil"

De acordo com a assessoria de imprensa da cantora, "os amigos da Tati já foram convidados e, para se ter uma idéia, serão 600 caixas de cerveja, que terão que ser geladas na piscina".

Hoje em dia, é senso comum pensar que dinheiro é sinônimo de mudança de apartamento, de bairro, de estilo de vida e se possível até de cidade. Pura arrogância. Nós somos também as ruas pelas quais passamos, as paisagens com as quais nos impregnamos, as raízes que criamos.

Se a paisagem que nos impregna não é lá essas coisas, isso poderia nos levar a pensar que o negócio é "sartar fora" assim que possível, para até mesmo nos tornarmos "seres humanos melhores". Mas beleza, minha gente, não é tudo. Vide o documentário "Sou feia mas tô na moda", que mapeia o funk carioca e cujo título é também o nome de um dos batidões da Tati. "Quem ama o feio, bonito lhe parece" já diz o ditado. Aceitar isso, e não se surpreender, é deixar de lado nossa arrogância e perceber que a felicidade não mora apenas nas areias de Ipanema; nos Cafés do Leblon ou ainda nos shoppings e lofts da Barra da Tijuca e afins.

Para mim, a maior pobreza e feiúra de todas, a única que é inaceitável e que me faz ter vontade de passar a vida bem longe, é a pobreza espiritual. Eu penso que vivemos uma época em que impera a feiúra. Mas não é a feiúra da falta de dinheiro e ou da falta de locais chiques e bacanas que me incomoda. Me incomoda mais a feiúra dos horizontes estreitos.

Vejam: a Tati pode querer passar a vida inteira na Cidade de Deus. Mas se a sua mente estiver conectada com o mundo, se a grana que ela ganha contribuir para que ela tenha outras referências, sonhe mais, aprecie outros estilos de vida e tenha a certeza de que sua comunidade NÃO é o centro do universo: OK!!. O dinheiro já terá cumprido algum papel importante na vida da Tati.

Para mim, quase tudo na vida é uma questão de relativizarmos: os nossos problemas, as nossas certezas, o nosso conceito de "beleza"; "pobreza"; "feiúra". Quando vivemos assim, ampliamos nossas mentes, conquistamos o mundo. Mesmo morando em pindamoiangaba.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ano Novo Vida Nova



A sua vida precisa ser renovada?

Passei um ano achando que estava construindo alguma coisa especial. A construção começou a se mostrar meio periclitante, uma espécie de edificação "balança mais não cai". Mas o fato é que caiu. E que bom que caiu.

Eu aprendi muito com esta queda. Acho que amadureci cerca de dez anos de vida. Pena que foi preciso gastar tanto material de construção, tantas palavras, e água e sal.

Mas, enfim. Descobri que estava tentando edificar algo em terreno arenoso, sujeito à abalos sísmicos.

Uma coisa é verdade: se você não muda, não renova seus pensamentos, não transforma as suas atitudes, sua vida continua a mesma. Tenho aprendido que muitas vezes a verdadeira sabedoria consiste em aprendermos a dizer não. Eu sou partidária, quase sempre, do sim. “Sim, vamos tentar”. “Sim, por um mundo melhor”. “Sim, eu compreendo”. “Sim, pode ser uma boa”. Mas o “não” guarda poderes supremos, pode nos abrir novos caminhos. O “não” nem sempre é fracasso. Muitas vezes é defesa, proteção, e sabedoria. Na vida, precisamos dizer muitos “nãos” para que o “sim” tenha realmente sentido.

Desejo a todos que estão desejando “Ano Novo Vida Nova” uma reciclagem total. Eu já separei bem o que desejo “jogar fora” e o que desejo transformar na minha vida. E você? Sabe para o que vai dizer não?

Para você talvez o aprendizado seja outro. Talvez para você o aprendizado consista em ser mais afirmativo. Fazer sinal de “ok”, sorrir e cantar para a vida. Não interessa. O importante é se questionar, e modificar realmente o que estiver fora do lugar (ou já muito formatado).

Comecei esse “processo” decidindo mudar minhas paisagens. Não agüento mais dar vazão ao meu lado “patricinha” e ficar indo a boates lotadas, travando diálogos (?) com seres vazios que não tem quase nada a acrescentar. São espécies de clones que se reproduzem em série. Sempre a mesma musculatura corporal e flacidez cerebral. Em uma mão seguram um copo e na outra, por vezes, um cigarro. Por mais que esses seres possuam apenas dois braços, como todos nós mortais, eles têm o poder de criar ainda outro braço, e outra mão (no caso das duas estarem ocupadas) para te segurar e te enlaçar pela cintura.

Como de patricinha eu guardo tão simplesmente certo gosto musical, decidi renovar o terreno por onde tenho andado, em todos os sentidos. Quero mais samba e menos choro. Mais choro e menos techno. Mais baião e menos balada. Quero mais amizade e menos afeto sem tempero e sem gosto verdadeiro.

E você, já sabe o que vai querer? Está lançado o desafio.