quinta-feira, 17 de maio de 2012
Carta a um Amigo
Perdi um amigo que para mim era a liberdade. Ele todo era livre, tão livre, que carregava asas. Um dia tentou voar, muito mais alto do que jamais havia sonhado. Saltou amplo no espaço e nunca mais acordou.
Esse amigo para mim é hoje um perfume. O cheiro do incenso que havia em seu quarto. Brisa doce. Barulho de chuva batendo no vidro de casa.
Quando sinto meu peito se abrindo e a respiração pedindo mais vento... é o Bruno quem eu vejo. Nestes dias em que estamos fartos de tudo e temos tanta vontade de uma vida mais bela... Eu tento olhar através da janela: e lá encontro o amigo. Chamando meu nome. Sempre disposto a desbravar um pouco mais do espaço. A explorar ainda um pouco mais a vida.
Bruno não pôde ficar. Não sabemos – nunca talvez saberemos - qual foi o motivo. O que sei, apenas, é que tentou voar. E voou.
Ele, que sempre gostou das alturas. Do alto dos montes, dos morros, das serras. Ele, que sempre soube apreciar a cidade vista de cima, por cima dos prédios, de todos os prédios de cinza e de pedra.
Para mim, Bruno é uma cor, um cheiro tão próprio e muita alegria.
O seu olhar era um jardim florido, como o lá de Friburgo, em dia de sol. Quando ele falava, eu toda acordava, para prestar atenção. Viagens e mais viagens. Muitas vezes, interplanetárias. Ele trazia de seu pensamento muitas pedras preciosas, conchinhas, ouro e estrela do mar.
O Bruno, quando falava, me fazia rir por dentro. Ele era um artista. Maior que Michael Jackson, Madonna ou Charles Chaplin. Muito maior: porque ele era meu amigo. Um grande amigo. O primeiro amor.
Com ele, pela primeira vez, percebi que um homem pode também ser uma pessoa muito sensível. Um homem pode ter ombros largos, bons de abraçar e serem abraçados. A um só tempo, acolher e pedir colo.
Era um homem que percebia a natureza tão própria de cada criatura, com sensibilidade, perspicácia e muita doçura.
Dividia com a gente as adivinhações que fazia, sempre de forma espirituosa e espontânea. Do lado dele, a partir de um certo momento da vida, eu queria apenas me sentar e ouvir. Talvez aplaudir.
Eu pedia conselhos, queria sempre saber um pouco mais de suas impressões. Sobre as pessoas, as coisas, a existência.
Uma vez, triste com o fim de um namoro, fui almoçar com ele em um restaurante japonês, lá no alto de um shopping. No meio da nossa conversa, descobri que eu não estava mais triste. Não tinha um namorado, mas tinha um amigo. O que mais eu podia querer? Prometi ali, para mim mesma, que nunca mais sofreria tanto no mundo, porque, quando me sentisse só, bastava que me lembrasse dele.
Tem coisas que a gente pensa, e se esquece. E a vida passa, e passa a cada dia mais. Voando.
O Bruno dormiu e não mais acordou. Foi embora sonhando, para um mundo onde sonho já não é mais fantasia.
Com este amigo, eu tinha um tipo de relação que temos com plantas e bichos. Não precisamos nem falar. O silêncio era cúmplice. As palavras apenas cobriam com fina camada um horizonte verde, profundo, e farto. Horizonte plantado, regado e cultivado por eras a fio.
Amigo de infância. Amigo de histórias. Irmão em criatividade, em mundo da lua, em vida do avesso.
Juntos, tiramos um dia uma foto, que bem simboliza a nossa amizade: mãos dadas, frente a frente, e nossas bocas abertas em um enorme grito. Olhos bem acordados, gritávamos para o mundo da nossa adolescência. Inquietação, vontade de viver e aprender um pouco mais. Este era o meu amigo.
Este é, para sempre, o meu amigo Bruno.
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2 comentários:
Juju!
Linda e emocionante sua carta.
Vc perdeu um amigo, mas é impressionante como ele está vivo em vc com suas melhores qualidades...esse é o ganho, a troca de um amor pra vida toda!!!
Respire assim todos os dias e sinta esse vento de liberdade te acordando pra essa felicidade genuína...sempre com frescor no olhar, grata por simplesmente estar viva, com saúde e podendo expressar seu melhor também.
Te amo amiga!
bj
Carla
Lindo Ju..
Tenho certeza que meu irmáo sente essas boas vibraçóes qdo pensamos nele.
Bjs,
Camila.
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