sábado, 5 de dezembro de 2009

Tá na moda ser bobo




Depois de dedicar um post exclusivamente ao mané, escrevo este em homenagem ao... bobo. Se há tempos o bacana era ser sério, hoje em dia está na moda ser bobo. A palavrinha já é por si interessante. Duas letrinhas iguais duplicadas. Bêó-bêó. O bobo, dependendo da capa de “genialidade” que vista nas suas baboseiras, pode se tornar alguém interessante. Em geral, são caras meio desajeitados, sem aquela gentileza dos malandros autênticos, desprovidos da sensibilidade dos românticos ou da capacidade argumentativa dos inteligentes. Claro que não existem rótulos rígios para nenhum desses tipos. Aliás, sou contra os tipos. Mas bobo que se preze não é passível de relativização. Na época da adolescência, fazem a alegria dos amigos. E seguem proporcionando aos amigos o mesmo tipo de alegria juvenil, por toda a vida. Junto à mulherada, o bobo tem essa vantagem do frescor juvenil. Ele te faz rir de um palito, de uma caixa de sapatos, de coisas aparente banais. As piadas do bobo em geral são banais. Mas de tão banais, ficam divertidas. Existe por aí todo tipo de bobo: o bobo playboy, o bobo pseudo-intelectual, o bobo alternativo e descolado, entre outros. Hoje em dia um tipo muito específico de bobo – a ser pormenorizado neste post - está na moda, e por estar “in”, tende a provocar confusão na capacidade de discernimento humana. Esses bobos querem passar por “autênticos”, o que de fato, não o são.

Vejamos como identificar um bobo. Aquele cara que não tem limite, que faz graça de tudo, recorrendo ao humor negro, humor arco-íris, e todos os tipos (em geral manjados) de humor. É fácil imaginar a piada que vem de um bobo. É aquela que ninguém tem coragem de fazer, e o bobo vai lá e.. faz! Acho muito saudável a existência de bobos na Terra, e reconheço algum charme em meio à banalidade nesses seres tão... serelepes. Mas creio que o tema mereça análise mais cuidadosa, em nome de certa tendência que aponta certo tipo de bobo se legitimando na sociedade como verdadeiro mané. Vejamos o "bobo descolado", que é o que está na moda. Muito legal eles sacanearem, por exemplo, os políticos, como fazem os bobos do CQC. Mas a questão é que ficou tão fácil ser bobo (vide a proliferação de grupos de comédia em pé – alguns deles realmente bons - e de programas de TV como Pânico e Cia) que a qualidade da bobeira tende a se degradar mais e mais, tornando-se, sim, nociva à sensibilidade humana.

Quando dizem que o Pânico está tomando a audiência do Fantástico, não estranho. Trata-se daquele fenômeno já anunciado por gente boa (e não boba) de plantão, que alerta há tempos quanto à tendência (perversa) da informação virar entretenimento, perdendo seu verdadeiro foco e sentido. Isso somado ao fato de o Fantástico ser um programa em geral chato, deixando-o em desvantagem em relação à bobeira fácil do Pânico. Mas quando jornalistas se dedicam com afinco a debater histórias como por exemplo aquela da aluna da Uniban, como se fosse uma Leila Diniz contemporânea ... fico à beira da depressão. Brincar, por exemplo, com o suicídio dessa moça, a atriz que fez a professorinha na tevê, é de um tremendo mau gosto. O suicídio cometido por ela não merece ser alvo de piadas grosseiras, como a do pessoal do CQC, que disse que ela se matou “porque teria que contracenar com Alexandre Frota”, ou porque “quem não se mataria, no lugar dela?”. Agora eu pergunto: bobeira ou babaquice? A questão é que esses caras, como são bobos, estão na moda e tem fama, se acham no direito e no dever de fazer uma graça muitas vezes baixa, apelativa e desrespeitosa.

Desconfio que certo tipo de bobo em voga atualmente esteja muito próximo do cínico. Não apresenta compromisso com nada, em nada acredita, a não ser na própria ... fama. O bobo não acredita nem na (pretensa) graça da própria bobeira. Quando legitimado, seja por um pequeno grupo de amigos ou pelo público da tevê, acha que paira alguns níveis acima dos outros mortais.

Defendo a ética e o mínimo de bom gosto na bobeira. Aprecio os bobos inteligentes e talentosos, como o pessoal da finada TV Pirata, como o ótimo Marcelo Adnet, o Arthur Xexéo, entre outros diversos que se dedicam à bobeira com classe e conteúdo. Nesta era do Twitter, ficou fácil ser bobo. O pessoal usa da ferramenta até para anunciar que fez cocô, achando que pode ficar engraçado. A bobeira fácil despreza a informação, a cultura, o conhecimento. Ela é oportunista, vai em cima do que é obvio, reforça os preconceitos, privilegia o mau gosto.

A bobeira fácil é afeita à fofoca, apequena as pessoas e a vida. Eu particularmente desprezo este tipo de (mau) humor. Acredito no poder da inteligência, da bobeira criativa e transformadora. Que sobrevivam os bons bobos. E ponto final aqui nesta baboseira!

6 comentários:

teoriasrabugentas disse...

Boa, Julia! Bem-vinda!

Max disse...

Olá Julia. Sobre o texto: o meu conceito de bobo é um pouco diferente. Eu o considero um chato!! O bobo carece de argumentação e "tenta" ser engraçado forçando situações. É o caso do Pânico...Bem diferente, do humor...Neste sim, o sujeito deve ter um timming, uma velocidade grande de "linkar", e ser muito inteligente, além de ter o "espírito evoluído" de sacanear a si próprio. Eu gosto de ouvir pessoas seguras que não tem medo de expor seus defeitos, e melhor ainda, fazer graça disso.
Sobre o pessoal do CQC, eles fazem humor...E são muito bons...Mas, uma particularidade do humor é perdida: a espontaneidade. Essa característica se perde quendo vc é obrigado a fazer um programa de 1 hora e meia. Bate o desespero e o humor "mais que negro" aparece. Uma pena...Sobre o bobo estar na moda: toda moda desaparece na mesma velocidade que surge. Somente os bons conseguem sobreviver...Então distinguiremos quem é bobo e quem tem humor

Unknown disse...

Ju, que reciclagem de pensamentos maravilhosa! Voltou com tudo!!
Deu vontade até de nomear mais alguns bobos...

Jurandi Siqueira disse...

Julia. Corcordo plenamente com voce. Parece que estar na mídia é o que importa.Infelizmente tem "gente" que consegue isso e pior, obtêm riqueza gerada pela audiência de milhões de bobos de plantão, que os assistem. É daí que nascem os "seu Creisso" as "lady Katy" da vida.

Isabel Cassano disse...

Júlia, adorei o texto. Gosto da maneira como escreve, com humor e sem ser boba!!! Bjos

capablanca@zipmail.com.br disse...

Existe um outro tipo de bobo não mencionado. É o metido a Hannibal Lecter. Aquele tipo que está na solidão de sua casa, em plena madrugada, e decide "fuçar" a internet à busca de algo que amenize um pouco sua mente perturbada. Então, depara-se com um texto realmente instigante. Não pelo conteúdo, que apenas sugere um anseio incontrolável de parecer mais madura e "colocada" do que a articulista realmente é, repetindo um arsenal de argumentos que se pode comprar na quitanda de secos & molhados a preços módicos. No aspecto formal da língua, o texto, pouco exuberante, indica o esforço hercúleo em demonstrar que a mesma foi excelente aluna no colégio, leitora voraz de incontáveis livros incensados pela intelligentsia, mas aqui, presto-lhe uma reverência: é mais do que a maioria alcança, seja pela falta de conhecimento da gramática, quer pela preguiça por "escrever" de qualquer jeito. E o que realmente há então de tão instigante no seu texto? Vou direto ao ponto: a vontade que ele me desperta (citando alguém importante nas gerações passadas) de perguntar-lhe: COMO VAI, COMO VAI, VAI BAI?????
No que você pode me responder: TUDO BEM, TUDO BEM, BEM BEM!!!