quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Da vontade de ser mãe
Desde que o Bruno se foi, sem dizer nada, bem no alto da madrugada, andei muda. As palavras pareciam pequenas, sem o superlativo (do) amigo. Ainda converso com ele, todos os dias, talvez mais que antes. E agora, acordando deste grande inverno dos sentidos, percebo que ficar distante do Balaio, igualmente, não me fará bem.
Com a partida do Bruno, também eu me senti menos viva. Por este motivo, volto a falar. Falar da vontade de criar, multiplicar, construir, produzir... que reside no ímpeto da escrita e na vontade de ser mãe.
Coisa estranha, essa, que guardamos no ventre desde que somos pequenininhas e que parece florescer com força total lá pela casa dos 30/35 anos. Algumas mulheres fazem deste desejo o combustível para ir além no trabalho, acolher parentes e amigos debaixo dos braços, construir uma bela casa, edificar um casamento, enveredar por terras distantes e viagens maravilhosas.
Mas, para algumas de nós, a capacidade de gerar outra vida se parece tão mágica que abdicar da empreitada seria como viajar ao Egito sem conhecer as pirâmides.
Estranha a sensação de sermos meio gente, meio animalzinho. Temos um ciclo de vida reprodutiva por meio do qual nos ligamos à Terra e, nesta nossa particularidade humana, sentimos vontade de nos unir amorosamente àquele que escolhemos para andar por aí, vida afora, criando novas vidas.
Vontade de ser mãe é como a vontade de dar o primeiro beijo, experimentar a primeira transa, ou ter o primeiro namorado. É como a vontade de dirigir, de viajar sozinha, ou conhecer novas pessoas. Acontece. Dá o “clique” e, depois que bate, não tem mais volta.
Pois fui “fisgada” por este desejo. Algumas mulheres despertam para esta vontade ainda bem jovens. Outras, não despertam: são despertadas pela criatura já plantada em seu próprio ventre. E “acordam” para a maternidade na marra. Fui acordada por duas meninas, filhas daquele a quem tenho escolhido. Estas doces criaturinhas despertaram a mãe que eu guardava em meu ser, adormecida.
Ser mãe – o que representa isso para tantas e tantas mulheres? No meu (e em tantos outros) caso(s), o desejo está intimamente ligado à feminilidade, ao erotismo. À vontade de se fundir ao ser amado e produzir, com ele, algo que dure “para sempre”, sobrevivendo à nossa própria existência e criando, neste mundo, novos pensamentos, sentidos, alegrias.
Poderia dizer que o desejo de ser mãe é também o de gerar, com o cara com quem desejamos andar por aí, vida afora, nossa maior “obra de arte”. Não há nada mais grandioso, belo e perfeito do que criar, de um amor, um(a) filho(a).
Ser mãe é ter seu corpo modificado por alguns meses, e abrigar nele um ser que te acompanhará por toda a vida. No caso materno, baixa sobre nossa alma e nosso corpo físico uma sensação devastadora de acolhimento e plenitude. A idade parece acentuar o desejo, que trazemos desde que começamos a almejar, para nosso próprio ser, uma família.
Algumas de nós entram em pane, dão curto circuito, ao perceber que a idade passa e a maternidade não vem. Mudam os planos, redirecionam energias, tentam administrar a tristeza pelo desejo (talvez) não realizado.
Claro que, hoje em dia (felizmente) não acreditamos ter nascido somente para dar à luz a uma criatura que precise inicialmente de fraldas, leite e colo. Mas, ainda assim, o desejo de ser mãe é tão antigo e patente quanto a presença dos dinossauros na Terra.
Quando pequenas, nos admirávamos ao observar, na escola, aquele singelo pé de feijão, brotando de um algodão, a cada dia mais forte. Agora, mais velha, sonho com o dia em que terei força e condições de plantar com amor os novos pezinhos a serem fincados neste mundo.
Espero, com calma, sabendo que este dia será fruto da construção de uma história, que deve vir antes de qualquer filho. Uma história de companheirismo e, antes de qualquer outra coisa, amizade. Amizade profunda, encantada e sedutora, a qual chamamos de amor.
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