quarta-feira, 25 de julho de 2012

Novelas, o bem e o mal na tevê

Não sou uma fã calorosa de novelas. A novelinha da vida real me intriga muito mais. Acompanho de perto o drama de minhas amigas, parentes, colegas de trabalho. Às vezes histórias nem tão emocionantes, cheias de suspense, dor e alegria, mas histórias de vida, que me interessam, emocionam, alegram e fazem sofrer. As pequenas alegrias, conquistas e decepções dos seres humanos são, aos meus olhos, material riquíssimo. E quando eu sou de algum modo envolvida com os personagens destas “tramas”, ou mesmo protagonizo algumas delas, acompanhar as novelas se torna inevitável – as novelinhas da vida real.

A respeito das novelas da tevê, gosto quando se parecem com as tramas da vida real. Nunca gostei de novelas altamente cheias de suspense, intrigas ou luta pelo poder. Porque a vida me parece muito mais que isso. Por este motivo, sempre fui fã daquelas que narram histórias do cotidiano, da vida de pessoas comuns.

Lembro que na infância adorava Top Model, A Gata Comeu. Via no Nuno Leal Maia de Top Model, com aqueles filhos todos, algo do meu próprio pai e irmãos. Lembro até hoje de uma cena em que a Jô, personagem da Christiane Torloni em A Gata Comeu, beijava, um a um, os porta-retratos de seus ex namorados. Um apego ao passado com o qual eu já me identifiquei diversas vezes. Eram novelas despretensiosas, até ingênuas, que me encantavam.

Hoje me vejo capturada pela trama de Avenida Brasil. Praticamente todos os atores desta novela me parecem perfeitos em seus papéis. Adoro ver o núcleo do subúrbio, seu Leleco com síndrome de corno, a excelente periguete e seu namorado gay, a empregada que faz de tudo para criar bem seu filho, e se vê surpreendida pelo rebento marginal. Sem contar com a vilã maior da novela, interpretada pela Adriana Esteves.

Encaro as novelas como fenômeno de massas. Algumas capturam a gente como final de Copa do Mundo. E, se capturam tanta gente assim, algo de interessante ou válido (ainda que um punhado de fortes emoções) elas têm para nos transmitir. No entanto, assisto algumas novelas e me deixo levar por elas com olhar extremanente crítico. Me incomoda ver que a tônica de Cheias de Charme, a novelinha das sete, é o consumismo desenfreado. Ao contrário do que se possa pensar, a novela não é uma “ode” às empregadas, às suas vidas muitas vezes ásperas e cheias de desafios. Tampouco é sobre o poder dos sonhos na vida de um ser humano – o que, por si só, seria ponto para o “bom e belo” na tevê. Nesta trama, tudo o que as “curicas” querem, no fundo, é ser como as “patroetes”. Ter o que elas têm, poder comprar e usufruir do que elas usufruem.

Mesmo reconhecendo estes valores – que de modo algum são os meus – nestas tramas, gosto de apreciar a interpretação de uma excelente atriz, como a Cláudia Abreu. E as músicas grudam que nem chiclete, nos falando de um universo da fama e de um brega chique que a cada dia nos é mais familiar…”Hoje em dia o dinheiro está na mão das modelos, dos jogadores de futebol e das empreguetes”, disse certa vez um dos personagens da novela das sete. Assistir novela não deixa de ser um exercício filosófico e de reflexão antropológica.

Os últimos capítulos têm me incomodado pois as moças passam de shopping em shopping, de cobertura em cobertura, radiantes com a fama que conquistaram graças aos seus hits chicletes. Os autores poderiam evocar neste momento outros valores, outros aspectos da fama.. Mas, ao contrário, parecem buscar alimentar no público o fascínio pela fama, pelo dinheiro, pouco acrescentando de novo a eventuais filosofias e antropologias que poderiam repousar sob a trama – e enriquecer nossa vida.

Também Avenida Brasil.. tem apelado muito – e sido perdoada, por mim, em nome das excelentes atuações. A novela fala da obsessão, da sede de vingança. Mas, muitas vezes, me passa uma péssima sensação, como se na vida não houvesse, de novo, nada além da busca pelo poder, pela revanche, a vingança e – sempre – o dinheiro. Não há sequer um personagem que realmente questione a felicidade que vem com o dinheiro, que realmente faça o público pensar, se alegrar com o “belo e o bom”. Exemplo de dignidade, também a senhora do lixão esconde um passado sombrio e ainda desconhecido do público.

A protagonista da novela sacrifica o amor de toda vida em prol desta sede de vingança. E assim vamos, sendo envolvidas numa sequência de emoções fortes, cenas de suspense quase constante. Nada contra as novelas da tevê. Como disse, vejo, acompanho algumas, me envolvo. Mas, rogo aos autores, que a diversidade e riqueza da vida não seja reduzida ao poder do consumo, do dinheiro e às tramas que só falam às emoções mais fáceis de se alcançar.

O cinema americano está cheio de exemplos de histórias bem contadas e cheias de emoções violentas. Vez em quando, aparece algum revoltado louco no cinema...