Final de semana passado fui a uma festa de casamento - daquelas tradicionais. Acordei no dia seguinte com a sensação de ter ido a várias festas e, ao mesmo tempo, não ter ido a nenhuma. O motivo? São todas muitíssimo parecidas. Claro, as pessoas que se casam são diferentes, existem os laços afetivos, etc e tal. Mas o casamento, em si, é de fato um ritual, repetitivo, que vai se estendendo pela festa. O ritual começa, para as mulheres, principalmente, horas antes da cerimônia. Uma maratona que se inicia no cabelereiro: hidratação, corte, escova, mão e pé, depilação. Antes ainda, você se preocupa com a "questão" do vestido. Vai usar aquele mesmo centenário, que já foi ao aniversário de oitenta anos da sua avó, e ao casamento das suas três melhores amigas? Ou vai dar uma variada e pegar emprestado o da sua prima?
Bom, o sapato você pode usar aquele meio surradinho porque ninguém vai perceber. De todo modo, você faz a unha, para não pegar mal caso alguém repare. Depois de perder horas do seu dia nos preparativos para o casamento, e separar aquela bolsa guardada faz uns quinze anos para ocasiões especiais, você percebe (eu sempre percebo) que aquele par de brincos e cordão não estão mais guardados no mesmo local. Simplesmente sumiram. E o perfume? É comum só lembrar dele quando já fincamos os saltos na rua. Mas... tudo bem. Você dá o seu jeito, afinal, não é nenhuma patricinha de Beverly Hills. É uma mulher descolada do século XXI que não precisa seguir essas regrinhas todas da etiqueta social.
A outra parte do ritual se inicia quando chegamos no templo do casório. Os "anjinhos do mal" entram em ação na sua mente, sussurando uma série de pensamentos irrelevantes. As mulheres se olham, examinam detalhadamente os vestidos umas das outras. Comprou onde? Que lindo! Perguntamos qual foi a loja e, por segundos, chegamos mesmo a acreditar que no dia seguinte, cedo, passaremos lá para comprar um igual, se estiver em liquidação. Os homens que não costumam usar gravatas são também alvo de comentários. Hum... gostei de ver heim! Embebidas em pensamentos deste estilo, sentamos nos bancos da Igreja. Olhamos a imagem de Cristo. Reparamos na maquiagem das mulheres, das mais jovens às mais velhas. A pintura vai ficando carregada e os vestidos, mais largos. Até que viram um amontoado de panos e tiras, que deixam as formas bem escondidas, nas velhinhas de noventa, cem anos. Têm aquelas sem noção, sempre têm.
A missa começa, você torce para o padre ser breve, os olhos das almas emotivas quase se enchem de lágrimas, e embora você considere aquilo tudo um pouco cafona, uma partezinha sua, perdida nos confins do inconsciente, lembra dos finais felizes das novelas de sua infância, e - pasmem - quase pede a Deus para se casar de uma forma parecida. As músicas, as crianças correndo com alianças, quanto mais pequeninhas e fofas, mais angelicais, melhor. Em geral os pequeninos com alianças não seguem o caminho até o altar, empacam no meio do percurso, gerando certa tensão - logo dissipada pelas mãos de um adulto, que vai puxando os bracinhos do(a) fofinho(a) em direção ao casal.
Se rola empatia entre o casal, você torce para que tudo siga bem na vida dos dois. Em geral, faz parte da cerimônia os noivos sorrirem um para o outro. Se olharem nos olhos e se beijarem. Na festa, o noivo é levantado pelos amigos, sofrendo uma espécie de influência das cerimônias judaicas (essas, sim, bastante divertidas). A trilha sonora começa com músicas ao estilo New York, New York, embalos de sábado a noite, coisas dos tempos da brilhantina. Dos anos 70, o tempo corre para os anos 2010, e o pessoal de meia idade começa a dar o fora da pista. Então começam as músicas de boate tipo Nuth, Hip Hop, Funk, e depois algumas dos anos 80, bandas nacionais. Os caras te olham com olhar interessado e meio cerimonioso. Você emite o seu "u-hú" bastante adequado ao ambiente e levanta os braços em direção aos céus. Festa de casamento é o maior zero a zero. Afinal, você não deseja ficar se atracando com ninguém na frente da sua tia avó. Nem macular o clima de pureza angelical à lá vestido da noiva. A noite é toda dela. Ou melhor, deles.
Lá pelas tantas, após ter ingerido algumas caipifrutas, pensado na beleza do matrimônio e acenado freneticamente para os seus familiares te acompanharem com Claudinho e Bochecha na pista... você começa a sentir sono. A decoração, os vestidos, os sorrisos, a música, o local, por mais lindos que sejam... Todos tão parecidos. Tudo se passando como uma grande reprise de "sessão da tarde". Às vezes surgem aquelas fotos dos noivos em um telão, tem as sandálias havaianas, em geral de número bem maiores ou menores que os seus pés. Tem também as anteninhas coloridas para botar na cabeça e bancar o maluco beleza. Mas de maluco beleza, festa de casamento não tem definitivamente nada. Muito pasteurizadas e caretas.
Bom, o sapato você pode usar aquele meio surradinho porque ninguém vai perceber. De todo modo, você faz a unha, para não pegar mal caso alguém repare. Depois de perder horas do seu dia nos preparativos para o casamento, e separar aquela bolsa guardada faz uns quinze anos para ocasiões especiais, você percebe (eu sempre percebo) que aquele par de brincos e cordão não estão mais guardados no mesmo local. Simplesmente sumiram. E o perfume? É comum só lembrar dele quando já fincamos os saltos na rua. Mas... tudo bem. Você dá o seu jeito, afinal, não é nenhuma patricinha de Beverly Hills. É uma mulher descolada do século XXI que não precisa seguir essas regrinhas todas da etiqueta social.
A outra parte do ritual se inicia quando chegamos no templo do casório. Os "anjinhos do mal" entram em ação na sua mente, sussurando uma série de pensamentos irrelevantes. As mulheres se olham, examinam detalhadamente os vestidos umas das outras. Comprou onde? Que lindo! Perguntamos qual foi a loja e, por segundos, chegamos mesmo a acreditar que no dia seguinte, cedo, passaremos lá para comprar um igual, se estiver em liquidação. Os homens que não costumam usar gravatas são também alvo de comentários. Hum... gostei de ver heim! Embebidas em pensamentos deste estilo, sentamos nos bancos da Igreja. Olhamos a imagem de Cristo. Reparamos na maquiagem das mulheres, das mais jovens às mais velhas. A pintura vai ficando carregada e os vestidos, mais largos. Até que viram um amontoado de panos e tiras, que deixam as formas bem escondidas, nas velhinhas de noventa, cem anos. Têm aquelas sem noção, sempre têm.
A missa começa, você torce para o padre ser breve, os olhos das almas emotivas quase se enchem de lágrimas, e embora você considere aquilo tudo um pouco cafona, uma partezinha sua, perdida nos confins do inconsciente, lembra dos finais felizes das novelas de sua infância, e - pasmem - quase pede a Deus para se casar de uma forma parecida. As músicas, as crianças correndo com alianças, quanto mais pequeninhas e fofas, mais angelicais, melhor. Em geral os pequeninos com alianças não seguem o caminho até o altar, empacam no meio do percurso, gerando certa tensão - logo dissipada pelas mãos de um adulto, que vai puxando os bracinhos do(a) fofinho(a) em direção ao casal.
Se rola empatia entre o casal, você torce para que tudo siga bem na vida dos dois. Em geral, faz parte da cerimônia os noivos sorrirem um para o outro. Se olharem nos olhos e se beijarem. Na festa, o noivo é levantado pelos amigos, sofrendo uma espécie de influência das cerimônias judaicas (essas, sim, bastante divertidas). A trilha sonora começa com músicas ao estilo New York, New York, embalos de sábado a noite, coisas dos tempos da brilhantina. Dos anos 70, o tempo corre para os anos 2010, e o pessoal de meia idade começa a dar o fora da pista. Então começam as músicas de boate tipo Nuth, Hip Hop, Funk, e depois algumas dos anos 80, bandas nacionais. Os caras te olham com olhar interessado e meio cerimonioso. Você emite o seu "u-hú" bastante adequado ao ambiente e levanta os braços em direção aos céus. Festa de casamento é o maior zero a zero. Afinal, você não deseja ficar se atracando com ninguém na frente da sua tia avó. Nem macular o clima de pureza angelical à lá vestido da noiva. A noite é toda dela. Ou melhor, deles.
Lá pelas tantas, após ter ingerido algumas caipifrutas, pensado na beleza do matrimônio e acenado freneticamente para os seus familiares te acompanharem com Claudinho e Bochecha na pista... você começa a sentir sono. A decoração, os vestidos, os sorrisos, a música, o local, por mais lindos que sejam... Todos tão parecidos. Tudo se passando como uma grande reprise de "sessão da tarde". Às vezes surgem aquelas fotos dos noivos em um telão, tem as sandálias havaianas, em geral de número bem maiores ou menores que os seus pés. Tem também as anteninhas coloridas para botar na cabeça e bancar o maluco beleza. Mas de maluco beleza, festa de casamento não tem definitivamente nada. Muito pasteurizadas e caretas.