sábado, 12 de dezembro de 2009

Back to the night - tendências no cancioneiro carioca


Dançando forró no Democráticos constato que as cantadas agora também se aprimoram na tendência da especialização e da segmentação de mercado:. "Jornalista? Hum... você poderá então fazer um furo de reportagem com uma notícia que eu te darei como biólogo: a descoberta de uma nova jazida de..". Tentou a especialização pela via profissional, não foi feliz. Em seguida, explicando o passo de dança: "Esse passo chama-se volta ao mundo, cole sua testa na minha, agora a bochecha, agora o queixo" (o pior é que cheguei a acreditar que se tratava de um dos três novos passos que acabava de aprender) até que ... "agora gire a cabeça 360 graus" .. "Ops! Não conheço esse passo não!". Gente boa, as cantadas mais generalistas nesses casos ainda são melhores.. E independente desses rompantes de "criatividade" o Demo às quartas é bacaninha mesmo. Outra modalidade que parece estar em voga no quesito cantadas é ligar para a casa da pessoa em horários improváveis como 22h da noite ou às 6h da matina. Comigo ocorreu o primeiro caso, com uma amiga, o segundo. Será que esse povo não dorme? ...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Tá na moda ser bobo




Depois de dedicar um post exclusivamente ao mané, escrevo este em homenagem ao... bobo. Se há tempos o bacana era ser sério, hoje em dia está na moda ser bobo. A palavrinha já é por si interessante. Duas letrinhas iguais duplicadas. Bêó-bêó. O bobo, dependendo da capa de “genialidade” que vista nas suas baboseiras, pode se tornar alguém interessante. Em geral, são caras meio desajeitados, sem aquela gentileza dos malandros autênticos, desprovidos da sensibilidade dos românticos ou da capacidade argumentativa dos inteligentes. Claro que não existem rótulos rígios para nenhum desses tipos. Aliás, sou contra os tipos. Mas bobo que se preze não é passível de relativização. Na época da adolescência, fazem a alegria dos amigos. E seguem proporcionando aos amigos o mesmo tipo de alegria juvenil, por toda a vida. Junto à mulherada, o bobo tem essa vantagem do frescor juvenil. Ele te faz rir de um palito, de uma caixa de sapatos, de coisas aparente banais. As piadas do bobo em geral são banais. Mas de tão banais, ficam divertidas. Existe por aí todo tipo de bobo: o bobo playboy, o bobo pseudo-intelectual, o bobo alternativo e descolado, entre outros. Hoje em dia um tipo muito específico de bobo – a ser pormenorizado neste post - está na moda, e por estar “in”, tende a provocar confusão na capacidade de discernimento humana. Esses bobos querem passar por “autênticos”, o que de fato, não o são.

Vejamos como identificar um bobo. Aquele cara que não tem limite, que faz graça de tudo, recorrendo ao humor negro, humor arco-íris, e todos os tipos (em geral manjados) de humor. É fácil imaginar a piada que vem de um bobo. É aquela que ninguém tem coragem de fazer, e o bobo vai lá e.. faz! Acho muito saudável a existência de bobos na Terra, e reconheço algum charme em meio à banalidade nesses seres tão... serelepes. Mas creio que o tema mereça análise mais cuidadosa, em nome de certa tendência que aponta certo tipo de bobo se legitimando na sociedade como verdadeiro mané. Vejamos o "bobo descolado", que é o que está na moda. Muito legal eles sacanearem, por exemplo, os políticos, como fazem os bobos do CQC. Mas a questão é que ficou tão fácil ser bobo (vide a proliferação de grupos de comédia em pé – alguns deles realmente bons - e de programas de TV como Pânico e Cia) que a qualidade da bobeira tende a se degradar mais e mais, tornando-se, sim, nociva à sensibilidade humana.

Quando dizem que o Pânico está tomando a audiência do Fantástico, não estranho. Trata-se daquele fenômeno já anunciado por gente boa (e não boba) de plantão, que alerta há tempos quanto à tendência (perversa) da informação virar entretenimento, perdendo seu verdadeiro foco e sentido. Isso somado ao fato de o Fantástico ser um programa em geral chato, deixando-o em desvantagem em relação à bobeira fácil do Pânico. Mas quando jornalistas se dedicam com afinco a debater histórias como por exemplo aquela da aluna da Uniban, como se fosse uma Leila Diniz contemporânea ... fico à beira da depressão. Brincar, por exemplo, com o suicídio dessa moça, a atriz que fez a professorinha na tevê, é de um tremendo mau gosto. O suicídio cometido por ela não merece ser alvo de piadas grosseiras, como a do pessoal do CQC, que disse que ela se matou “porque teria que contracenar com Alexandre Frota”, ou porque “quem não se mataria, no lugar dela?”. Agora eu pergunto: bobeira ou babaquice? A questão é que esses caras, como são bobos, estão na moda e tem fama, se acham no direito e no dever de fazer uma graça muitas vezes baixa, apelativa e desrespeitosa.

Desconfio que certo tipo de bobo em voga atualmente esteja muito próximo do cínico. Não apresenta compromisso com nada, em nada acredita, a não ser na própria ... fama. O bobo não acredita nem na (pretensa) graça da própria bobeira. Quando legitimado, seja por um pequeno grupo de amigos ou pelo público da tevê, acha que paira alguns níveis acima dos outros mortais.

Defendo a ética e o mínimo de bom gosto na bobeira. Aprecio os bobos inteligentes e talentosos, como o pessoal da finada TV Pirata, como o ótimo Marcelo Adnet, o Arthur Xexéo, entre outros diversos que se dedicam à bobeira com classe e conteúdo. Nesta era do Twitter, ficou fácil ser bobo. O pessoal usa da ferramenta até para anunciar que fez cocô, achando que pode ficar engraçado. A bobeira fácil despreza a informação, a cultura, o conhecimento. Ela é oportunista, vai em cima do que é obvio, reforça os preconceitos, privilegia o mau gosto.

A bobeira fácil é afeita à fofoca, apequena as pessoas e a vida. Eu particularmente desprezo este tipo de (mau) humor. Acredito no poder da inteligência, da bobeira criativa e transformadora. Que sobrevivam os bons bobos. E ponto final aqui nesta baboseira!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Viver sem tempos mortos


A opção de assistir ao especial sobre Claudinho e Bochecha na televisão, confesso, quase me arrebatou, pelo que há de inocência e até pureza nas baladinhas só love só love dos rapazes. Mas pela graça do destino (e do ingresso ponto com) acabei indo ver a peça Viver sem tempos mortos, com a belíssima (no melhor amplo sentido da palavra) Fernanda Montenegro. Que mulher linda. Que sensibilidade e emoção ela passa para platéia a cada palavra dita. E que vida cheia de ideais, de idéias, de vontade de construir, desconstruir, reconstruir.

Ver a Fernanda em cena é oferecer a si mesmo uma deliciosa dose de intensidade contra a atmosfera cínica-blasé destes nossos tempos. A gente anda pelo fashion mall, observa aquelas vitrines cheias de belezas inalcançáveis, aquela gente bem tratada, mas quando entra no teatro é que percebe: quantas coisas deixamos fora de nossa vida, não por falta de dinheiro ou vontade, mas frequentemente por acomodação, cansaço, solidão. O que a gente deixa de fora da nossa vida não é (do mesmo modo) facilmente alcançável pelas nossas mãos. Mas tão mais recompensante...! E Fernanda nos lembra disso da forma mais simples, despojada, apenas contando com um banquinho, iluminação exata, e seu talento de atriz.

Na peça tudo é simples, direto, claro. Pensei então que a vida deve ser assim: simples, direta, clara. A partir da peça, penso que conectar-se na vida é arrumar nosso verdadeiro lugar: buscar estar perto de pessoas que se alegram com nossa sensibilidade, que se movem e se alimentam de "matéria" parecida, procurar frequentar lugares e paisagens que nos alimentem e estimulem. Simone de Beauvoir, vivida por Fernanda, encontrou seus verdadeiros "pares" no universo de Sartre. Nem mesmo uma paixão arrebatadora, como a que ela viveu com o americano Nelson Algren, foi capaz de fazê-la desistir desta sua primeira verdadeira escolha, tão fundamental. Não me refiro à escolha por Sartre, mas à escolha pelo que alicerçava sua vida: seu ambiente cultural, suas crenças, ideais, seus amigos, sua cidade, forma e estilo de viver.

“Viver sem tempos mortos, gozar a vida sem entraves" é um slogan de maio de 1968 que deveria se perpetuar por todas as vidas de todos os tempos. Simone de Beauvoir na pele da Fernanda é um pouco de todos nós que não queremos deixar a vida nos levar, que não nos sentimos plenos nesta era líquida de mensagens com números de toques contados. A peça nos provoca de maneira intensa, e sem máscaras. Em cena, Simone (Fernanda) se entrega, se revela, acolhe a própria ambiguidade (inclusive sexual), sem no entanto fazer apologia da frivolidade.

Claudinho e Bochecha têm seu lugar, mas a escolha pela peça tornou o tempo mais vivo.